Cotidiano

PT abre mão de indicar candidato ao Governo e tem candidatura de Jorge Viana ao Senado como estratégia

Sobre a candidatura única de Jorge Viana ao Senado, Daniel pontuou: “A tese do PT está definida; a questão agora é saber se o PCdoB e o PV, que são simpáticos a ela, vão bater o martelo”

O presidente estadual do partido, Daniel Zen falou sobre diversos assuntos em entrevista exclusiva. Foto: cedida 

A frente ampla da esquerda no Acre, formada por PT, PCdoB e PV, já iniciou as discussões sobre as eleições de 2026 e, embora tenha definido apenas o nome de Jorge Viana para a disputa ao Senado — representando o grupo —, pode lançar também um candidato ao governo no pleito que se aproxima. Foi o que afirmou o presidente estadual do Partido dos Trabalhadores (PT), Daniel Zen, em entrevista exclusiva.

O grupo precisa — e, segundo Zen, já está se preparando para isso — dialogar com outros três partidos que estão no mesmo espectro ideológico, mas ainda não entraram na discussão: o PSB (partido do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin), a Rede (partido da ministra de Lula, a acreana Marina Silva) e o PSOL. “Já tivemos uma conversa preliminar com eles”, afirmou o presidente do PT.

Nesta semana, em entrevista ao jornalista Luciano Tavares, do site Notícias da Hora, o porta-voz da Rede no Acre, Inácio Moreira, declarou ter convicção de apenas uma coisa para 2026: seu partido precisa disputar o pleito no campo majoritário, inclusive uma das vagas ao Senado — o que frustraria o plano da frente ampla de lançar apenas Jorge Viana.

Zen afirmou que os três partidos querem um candidato ao governo, mas que o PT não vai reivindicar essa candidatura, deixando a discussão para PV e PCdoB. “É claro que, se ninguém o fizer [a indicação de candidato ao governo], nós o faremos”, declarou o presidente.

Segundo Zen, já está se preparando para isso — dialogar com outros três partidos que estão no mesmo espectro ideológico, mas ainda não entraram na discussão. Foto: cedida 

Sobre a candidatura única de Jorge Viana ao Senado, Daniel pontuou: “A tese do PT está definida; a questão agora é saber se o PCdoB e o PV, que são simpáticos a ela, vão bater o martelo”.

O político, que comanda a sigla do presidente Lula no Acre, também foi questionado sobre um possível apoio a algum candidato da direita no estado — caso a esquerda não se coloque no páreo — e destacou alguns nomes que seriam ideais para a disputa.

VEJA ENTREVISTA:
ContilNet: a esquerda terá candidato ao Governo em 2026?

Os três partidos acham que temos que ter candidatura ao governo, sim, mas nós, do PT, não vamos reivindicar que esse candidato seja apontado pelo PT. Estamos defendendo, na federação, a tese de que devemos ter uma chapa majoritária, mas, no caso do Senado, precisamos ter candidatura única, e estamos reivindicando essa vaga para o Jorge. “Ah, mas são duas vagas”. Exatamente, são duas vagas e, quando há duas vagas, você pode lançar dois candidatos. No entanto, para evitar o que aconteceu em 2018, estamos optando — e isso é uma posição do PT, ainda não consolidada na federação. Tanto o PCdoB quanto o PV são simpáticos a essa ideia de candidatura única porque viram o que aconteceu em 2018 e a indefinição de 2022. Vamos repetir a estratégia de 1994, quando havia duas vagas para o Senado e lançamos apenas a Marina, que foi a mais votada. Ela recebeu os votos da esquerda e foi a segunda opção da direita.

Mas naquela época vocês tinham candidato ao governo. E agora não têm.

Ter um candidato ao governo é importante. Agora, esse candidato não precisa ser, necessariamente, do PT. Pode ser do PT? Pode! Tem nome? Tem! O Kamai, por exemplo. Como estamos reivindicando a vaga para o Senado e, além disso, defendendo que seja única, sem candidato de outro partido, não temos condições de apresentar também um candidato ao governo. Estamos abrindo mão dessa indicação para que o PCdoB e o PV apontem um nome. É claro que, se ninguém o fizer, nós o faremos. O PV está se movimentando, conversando com a Naluh [Gouveia] e outras lideranças importantes, assim como o PCdoB. Mas há outros partidos envolvidos, como a Rede e o PSOL. Já tivemos uma conversa preliminar com eles, mas primeiro precisamos consolidar essa tese dentro da federação. Ainda não está 100% consolidada. Há questionamentos como: “Vamos perder a possibilidade de indicar outro nome para a segunda vaga do Senado?” e “E a Perpétua?”. Estamos analisando os diferentes cenários. O PT já firmou um convencimento e um posicionamento interno dentro da direção e da militância. A tese do PT está definida; a questão agora é saber se o PCdoB e o PV, que são simpáticos a ela, vão bater o martelo.

Então, pode-se entender que o PT não tem interesse em lançar o nome do Jorge para o governo e sim para o Senado?

Sim, é para o Senado. Isso já está consolidado dentro do PT. O Jorge falou isso claramente para todos, para a direção e para os principais dirigentes.

É unânime, dentro da esquerda, a compreensão de que Jorge é a maior liderança do grupo no Acre. Não ter o Jorge na disputa ao governo pode enfraquecer a frente progressista?

Isso é muito relativo, porque ele disputou em 2022 e perdeu, mesmo sendo a maior liderança. Dizer que perderemos espaço por isso é discutível. Além disso, precisamos renovar. Essa é uma cobrança constante, inclusive de vocês da imprensa, quando dizem que o PT envelheceu por apostar sempre nas mesmas pessoas. Está na hora de lançar outro nome. Foi assim que aconteceu com o Jorge. Deixamos de apostar nos mesmos nomes e lançamos o dele, quando ninguém o conhecia. Vai ganhar, Everton? Não vai. Hoje, qualquer candidato da esquerda que não seja o Jorge tem poucas chances de vencer a máquina do governo, principalmente se a direita conseguir se unificar. Se estiverem divididos entre Mailza, Alan e outros, pode haver disputa. Mas, se eles se unirem, é caixão e vela preta para a gente.

Caso a esquerda não tenha candidato ao governo em 2026, há possibilidade de apoiar algum dos palanques da direita?

Não vamos ficar dependurados em Mailza ou Alan. Primeiro, porque não queremos apoiá-los. Segundo, porque eles não querem nosso apoio. Mas não posso afirmar isso com 100% de certeza, nem pelo PT nem pela esquerda, mesmo sendo presidente. Eu, particularmente, não topo apoiar Mailza, Alan ou Bocalom. Com a Mailza, até podemos ter uma conversa, dependendo dos termos. Mas Alan e Bocalom, sem chance. Eles trabalham contra nós e falam mal de nós. A Mailza, pelo menos, é mais discreta, não ofende nem ataca ninguém.

Jorge Viana é a aposta do PT, como candidato único ao Senado pela frente ampla da esquerda. Foto: Reprodução

Então, há alguma chance de apoiar Mailza?

Não posso dizer isso com certeza.

A demora de Jorge Viana em 2022 para se lançar candidato ao governo foi um dos fatores que o prejudicaram. A demora deste ano em definir um candidato da esquerda pode atrapalhar novamente?

Pode, sim. Mas são contextos diferentes. Aqui, não se trata de uma indefinição sobre para onde alguém vai, e sim sobre quem está disponível e disposto a encarar o desafio. Nem todo mundo tem coragem de enfrentar uma disputa como essa. Quando estávamos no auge, ninguém queria nos enfrentar. O único que insistia era o Bocalom, porque tinha um projeto pessoal de chegar lá. Tentou várias vezes, perdeu para Binho, para Jorge, para Angelim… até que, de tanto insistir, conseguiu. Hoje, esse papel é do Gladson. Ninguém quer enfrentá-lo nem a máquina do governo. Mas vai que surge um candidato com coragem, como o Bocalom teve na época.

É a luta que faz a força

Sim, é a luta que faz a força. Os dirigentes entendem isso, mas dirigente nem sempre é candidato. Às vezes coincide, mas não é regra. O candidato precisa ter carisma.

Sua posição como presidente do PT exige discrição ao abordar certos temas. Mas, pessoalmente, quais nomes Daniel Zen considera ideais para disputar o governo?

Temos alguns nomes: Thor Dantas, conselheira Naluh, Perpétua, Nazaré Araújo, Shirley Torres — que, apesar de não ter tanta envergadura, é um bom nome — e Kamai, que está em ascensão e muito preparado. São muitas opções.

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