Preço do café cai pelo 2º mês seguido, mas não alivia bolso do consumidor

Em meio ao tarifaço, deflação do grão é de 2,7%, mostra IPCA de agosto

No acumulado de 12 meses, a inflação do café chega a 60,85%, um dos maiores avanços entre os itens de alimentação • café

O café, um dos produtos mais tradicionais da mesa do brasileiro, registrou em agosto a segunda deflação consecutiva no IPCA.

Segundo os dados divulgados nesta terça-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o café moído caiu 2,7% nos preços médios do país, ampliando o movimento iniciado em julho, quando já havia recuado 1,1%.

A sequência de queda nos preços chama a atenção justamente porque vem no momento em que temos tarifas mais pesadas impostas pelos Estados Unidos. Já está valendo desde o dia 6 de agosto a taxa de 50% sobre o café e uma lista de outros produtos brasileiros.

Além do tarifaço, Juliana Inhasz, professora de economia do Insper, reforça o papel da safra e da sazonalidade na dinâmica dos preços do café.

“A safra do café de 2025, que estava sendo negociada no final de 2024, foi vendida por valores mais altos por conta do cenário. Então, isso fez com que o café esse ano ficasse mais caro. Mas a colheita melhorou neste ano fazendo com que as perspectivas para o ano que vem sejam melhores. Com isso, o café até começa a ser negociado com um valor mais atrativo, mas demora para chegar para o consumidor”, diz Inhasz.

A professora explica que os ajustes, especialmente os de queda de preços, são lentos, porque o produtor entende que o custo dele foi alto e por isso não vai aceitar menos do que aquilo que ele imaginava em relação a preço já que ele encarou custos maiores.

Para Vicente Zotti, sócio-diretor da Pine Agronegócios, um outro fator decisivo para a deflação recente do café foi o câmbio.

“A valorização do real frente ao dólar reduziu o incentivo às exportações e trouxe mais produto ao mercado interno. Mas acredito que, a partir de novembro, o café deve voltar a subir no varejo, acompanhando a alta recente do café verde nas bolsas internacionais”, comenta Zotti.

Na prática, porém, quem vai ao supermercado ainda não consegue perceber o produto mais barato.

Em São Paulo, o pacote de 500gr de café dessas marcas mais conhecidas é vendido por valores que vão de R$ 30 até R$ 47. As mesmas marcas em redes de atacarejo, onde os produtos costumam ter descontos maiores, a média dos preços fica entre R$ 24 e R$ 34.

Nada muito diferente de antes do tarifaço, isso porque de janeiro a agosto de 2025, o café moído já subiu 38,38%. E, no acumulado de 12 meses, a inflação do café chega a 60,85%, um dos maiores avanços entre os itens de alimentação.

Onde o café caiu mais (e onde subiu)

A deflação do café em agosto foi generalizada, atingindo quase todas as regiões pesquisadas pelo IBGE. Apenas Aracaju registrou alta (1,26%). Entre os destaques negativos estão:

  • Rio de Janeiro: -4,93%
  • Belo Horizonte: -4,82%
  • Curitiba: -2,47%
  • Brasília: -2,01%
  • São Paulo: -1,54%

Porto Alegre foi a capital onde o café ficou praticamente estável em agosto, -0,13%. Mas quando olhamos para o acumulado do ano, o cenário é outro para a capital do Rio Grande do Sul. Entre janeiro e agosto, os maiores aumentos foram:

  • Porto Alegre: 51,41%
  • Salvador: 45,98%
  • Aracaju: 45,75%
  • Fortaleza: 45,06%
  • Curitiba: 41,35%

Em 12 meses, a inflação mais pesada do café também está em Porto Alegre (80,54%), seguida de Curitiba (69,10%), Campo Grande (66,44%), Salvador (66,31%) e Rio Branco (65,89%).

Por isso, representantes do setor dizem que, apesar da deflação do café pelo 2º mês seguido no indicador oficial, os preços não devem cair de forma significativa para os consumidores. Principalmente porque o quadro global do café segue apertado.

“Não existe uma perspectiva de queda de preço do café no supermercado. Pelo contrário, o cenário é de pouca disponibilidade de café no mundo. O tarifaço criou insegurança e acabou estimulando compras antecipadas na Europa e Ásia. Duas das principais marcas já anunciaram aumento de 10% a 15% nos preços”, diz Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.

Café barato? Só na estatística

Com os dados do IPCA divulgados hoje, o que podemos concluir é que o cenário atual para o preço do café ainda é contraditório: enquanto os índices oficiais apontam queda por dois meses consecutivos, o consumidor segue sentindo o bolso pesar para manter o hábito diário do sagrado cafezinho.

Descompasso que é explicado, principalmente, pelo delay entre o preço pago ao produtor e o preço final ao consumidor, além da pressão de custos logísticos, das embalagens, mão de obra e, agora, do tarifaço.

Pontos que fazem com que as perspectivas para os próximos meses não sejam das melhores. O consenso entre os especialistas é que o café continuará caro, mesmo com a oferta maior na safra 2025 e com o redirecionamento de parte do café antes destinado aos EUA.

“O café é um produto considerado essencial, as pessoas dão bastante valor e ele tem baixa elasticidade. Então, conforme as safras se regularizem, os preços até vão cair, mas é meio ilusório achar que volta aos níveis anteriores. O médio prazo depende muito de três condições: safra, câmbio e política americana. Uma somatória que deve desenhar o que acontece com esse mercado do café daqui pra frente, que ainda é bem incerto”, concluiu Inhasz.

 

Fonte: CNN

Comentários

Publicado por
Da Redação