Por falta de médicos, remédios e leitos, servidores da saúde podem fazer greve

“O desleixo é aberrante com a vida humana neste governo. Ele promete muito, mas efetivamente nada tem feito para melhorar as condições de trabalho”, critica presidente do Coren

Assem Neto, da ContilNet Notícias

O presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren), Adailton Cruz, faz uma avaliação dramática da saúde pública do Acre. “Falta dipirona. Falta Paracetamol. Faltam antibióticos básicos. Falta Cefalotina (antibiótico com ação antibactericida). Falta atadura. Faltam médicos. Nos hospitais, o estoque de medicamentos está praticamente zerado”, denuncia.

Mil e oitocentos técnicos em enfermagem e enfermeiros decidirão, na próxima terça-feira (23), se irão paralisar suas atividades. O indicativo de greve será colocado em votação às 15h30 pelo Sindicato dos Profissionais, Auxiliares, Técnicos em Enfermagem e Enfermeiros do Estado do Acre (Spate-AC).

Falta de leitos nos hospitais é um dos motivos do desejo de greve

Trabalhadores todos os municípios estão presentes para um momento que, segundo o presidente do Coren, que também é servidor municipal, pode causar o maior desgaste político e administrativo ao governo do PT nos últimos 20 anos. A categoria também exige reposição salarial.

Somente em Rio Branco, a possível greve afetaria 58 unidades, dentre elas as que se destinam ao Programa de Saúde da Família (PSF) e as unidades de Referência em Atenção Primária (URAP´s).

Durante duas semanas, a reportagem de ContilNet revelou o drama de pacientes que passam madrugadas à espera de fichas e abordou a falta de pediatras nas URAP´s mantidas pela prefeitura de Rio Branco. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde reconheceu o problema.

Veja os principais trechos da entrevista:

“O desleixo é aberrante com a vida humana neste governo”, disse Adailton

ContilNet – Qual o diagnóstico das unidades de saúde no Acre na atualidade?

Adailton Cruz – Um caos. Temos mantido o acompanhamento diário em todas as unidades, ouvindo, fiscalizando, e sempre encontramos a mesma situação. Ou seja: faltam profissionais, faltam equipamentos, faltam medicamentos. Às vezes, nem temos seringas. De uma forma geral percebemos que o Estado está à beira de um colapso. Parece ter perdido o controle. Está incapaz de manter a atual estrutura e sequer melhorá-la.

A imprensa tem dificuldades para mostrar isso. O que o senhor vê lá dentro?

Existe paciente tendo complicações por falta de antibióticos. Faltam dipirona, falta Cefalotina e outros antibióticos básicos. Não temos Paracetamol na maioria das unidades. Às vezes, falta até atadura. Os estoques dos hospitais estão praticamente zerados. Faltam vagas para internação. Não temos leitos suficientes. O quadro de profissionais está defasado. É preciso contratar mais profissionais em saúde urgentemente. Mas sem comprar remédio e equipamentos, não resolve.

Como é possível atender crianças sem pediatras?

É outro problema sério, principalmente nas UPAS do conjunto habitacional Cidade do Povo e do bairro Sobral. O governo tenta fazer remanejamento de escalas, mas essa escala sempre fura. O planejamento está errado. O ideal é contratar e lotar esses profissionais em seus devidos setores. Até na Maternidade Bárbara Heliodora, onde se concentra o grande número de nascimentos, só tem um pediatra por dia. Se houver mais de uma intercorrência simultaneamente pode-se perder vidas. O desleixo é aberrante com a vida humana neste governo.

E os salários?

Estão extremamente defasados, e tornando cada profissional refém de jornada de trabalho extra para suplementar a renda. Com isso, piora a qualidade da assistência. Muitos enfermeiros, técnicos e auxiliares estão morrendo em serviço, pelo desgaste e sobrecarga. Recentemente, presenciamos colegas com sérios problemas de saúde obrigados a sair do plantão para fazer sessão de hemodiálise e quimioterapia e depois retornar para o plantão. Tudo isso para não perderem o plantão extra. Um desses colegas morreu recentemente.

Há 12 anos não há reajuste. Procede?

Nos últimos 12 anos, nenhum servidor da nossa área teve sequer a reposição das perdas salariais, que vêm se acumulando com a inflação e o aumento do mínimo. Hoje, para repor as percas e retornar o poder de compras, o governo teria que conceder um reajuste de 58%. Um sonho. O governo promete muito, mas efetivamente nada tem feito para melhorar as condições de trabalho.

E se a greve for aprovada?

Só em Rio Branco serão mais 58 unidades envolvendo URAP e PSF prejudicadas. No estado inteiro também haveria problemas. Será um total 1.800 profissionais, entre enfermeiros e técnicos de enfermagens, buscando seus direitos e lutando por condições dignas de trabalho.

O que diz o governo?

Eles foram enfáticos. Não têm nada a propor. Dizem que não tem dinheiro.

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Publicado por
Alexandre Lima