Policiais são indiciados por investigar prefeito de Senador Guiomard sem autorização

Prefeito André Maia se diz vítima de perseguição policial e trama política. Foto: Folha do Acre/Reprodução

Uma investigação policial contra o prefeito de Senador Guiomard, André Maia (PSD), feita sem autorização judicial, gerou o indiciamento de dois agentes da Polícia Civil por parte da Corregedoria do órgão. O gestor afirma ter sido espionado, inclusive nas madrugadas, e insinua que seu vice, Judson Costa (PPS), irmão de um dos agentes, estaria por trás da trama, com a ajuda do presidente da Câmara de Vereadores, Jucimar Pessoa de Souza (PP).

O inquérito contra os policiais José Araújo da Silva Costa e Elton André Anute Gurgel foi encaminhado para o juiz da Vara Criminal do município, Romário Divino Faria, no dia 20 de setembro, sem alardes. Porém, o documento veio a público nos últimos dias.

Início do inquérito da Corregedoria da Polícia Civil

Realizadas no começo do ano, as investigações teriam começado após o vereador Jucimar, também conhecido como Gilson, ter feito registro de ocorrência na delegacia em desfavor do prefeito. A denúncia diz que o gestor não reside na cidade, o que infringiria a lei.

Consta no inquérito que o parlamentar foi recebido por José Araújo, um dos indiciados. Por ser irmão do vice-prefeito, que possui desavenças políticas com André Maia desde o início do mandato, o policial pediu para que o colega Elton André registrasse a ocorrência. Depois, os policiais teriam dado início às coletas das provas de que o prefeito não residiria no Quinari.

As investigações teriam sido feitas mesmo sem a ciência do delegado de Polícia Civil da cidade, Marcus José da Silva. Elas reúnem fotografias, gravações, printes de conversas de Whatsapp e ligações para o consultório de odontologia que supostamente pertenceria ao prefeito.

“Percebi que um carro me seguia, com alguém tirando fotos, e fiquei muito assustado. Depois, soube da existência de uma investigação contra mim, sem autorização. Os arquivos foram encontrados no computador usado por um policial e irmão do vice-prefeito, que não é meu parceiro há um bom tempo”, disse André Maia. Ele insinuou que o objetivo das investigações era prejudicá-lo politicamente a fim de provocar a cassação de seu mandato.

O gestor afirma ter residência, chácara, colônia e consultório odontológico em Senador Guiomard, conforme declarado ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AC), e que é livre pra dormir onde quiser. “Para a Justiça, o que vale é o domicílio eleitoral, e isso eu tenho”, disse.

O inquérito da corregedoria da Polícia Civil traz, ainda, a denúncia de tentativa de adulteração de documento policial com os detalhes da investigação. “O referido documento público, em tese, registrado no dia 19 de janeiro de 2018, às 14:30 horas, embora contenha os autógrafos do agente de polícia, Elton André Anute Gurgel, consta em seu rodapé a informação de que foi impressa em 26/04/2018, às 14:32:57 horas, data posterior ao dia que o delegado de Polícia Civil, Marcus José da Silva Cabral, foi informado de sua existência, o que gera dúvida razoável sobre a sua autenticidade”, diz trecho de documento assinado pelo corregedor-geral.

O outro lado

Procurado pela reportagem, o vice-prefeito Judson Costa afirmou ter sido pego de surpresa com as insinuações de André Maia. Ele desafiou o gestor a provar seu envolvimento e prometeu acionar os meios legais para “colocar as coisas no seu devido lugar”.

“É verdade que rompemos no início do mandato e que meu irmão é o policial civil citado no indiciamento, mas isso não quer dizer que eu tenho participação. Isso não passa de uma teoria da conspiração e um ato mentiroso e covarde. Estou com a consciência tranquila”.

Parte do relatório da investigação ilegal feita pelos policiais

O presidente da Câmara de Vereadores, Jucimar de Souza, confirmou, em depoimento, que foi até a polícia para registrar ocorrência contra a suposta desobediência à lei orgânica do município por parte do prefeito. Porém, afirma que não tomou conhecimento das providências investigativas adotadas pela delegacia. Ele disse que chegou enviar ofício ao delegado solicitando informações sobre sua denúncia, mas não recebeu respostas.

O policial Elton Gurgel, que, à época, havia acabado de chegar ao município após transferência do Juruá, disse, em depoimento à polícia, ser corriqueiro que os agentes saiam a campo para investigar casos noticiados sem que o delegado tenha conhecimento prévio.

Afirmou ainda que não agiu de má fé e que desconhecia a prerrogativa do prefeito ser investigado apenas com autorização do Tribunal de Justiça (TJ). Confessou também que o agente irmão do prefeito auxiliou as investigações e que todo o material coletado foi entregue a ele. Gurgel negou a prática de falsidade ideológica e adulteração de documento público.

O outro agente, José Araújo, irmão do vice-prefeito, também prestou depoimento e declarou que é normal a proatividade dos agentes no início de investigações. Ele confirmou que orientou o colega a verificar a procedência das informações denunciadas pelo vereador e também não sabia que o prefeito só poderia ser investigado com autorização judicial.

Sobre a distância de três meses entre a data contendo os registros da investigação e a reimpressão do mesmo, Araújo justificou que isso se deu em face ao amontoado de serviços e atividades e que reimprimiu o documento porque o perdeu em meio a esse acúmulo.

Fonte: Página20

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Publicado por
Da Redação