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PF desvenda esquema de empréstimos consignados fraudulentos no INSS com participação de servidores e bancos

Operação Unlocked revela que estagiária na Bahia liberava benefícios ilegalmente para empréstimos sem autorização; milhares de aposentados podem ter sido vítimas

Fraudes no INSS: PF descobre esquema de empréstimos consignados ilegais. Foto: internet 

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é alvo de um escândalo nacional após a Polícia Federal (PF) desbaratar um esquema de liberação fraudulenta de empréstimos consignados, envolvendo servidores públicos e instituições financeiras. As investigações, parte da Operação Unlocked, indicam que milhares de aposentados e pensionistas em todo o país podem ter sido vítimas de golpes.

De acordo com as apurações, uma estagiária do INSS em Mutuípe (BA) desbloqueava benefícios previdenciários de forma irregular, permitindo que empréstimos consignados fossem contratados sem o conhecimento dos titulares. O esquema contava com a participação de uma agente financeira local, que repassava listas de nomes para a servidora liberar os créditos de maneira indevida.

A operação, deflagrada no final de 2024, expõe falhas no sistema de controle do INSS e levanta preocupações sobre a segurança dos dados de beneficiários. As autoridades investigam se o esquema se estende a outras cidades e se há mais envolvidos. Os suspeitos podem responder por crimes como estelionato, falsificação de documentos e formação de organização criminosa.

O caso reforça a necessidade de fiscalização mais rígida sobre operações de crédito consignado, modalidade que já representa uma das principais dívidas dos aposentados brasileiros. O INSS informou que colabora com as investigações e que tomará medidas para evitar novos casos.

Além de funcionários públicos, grandes instituições financeiras também estão sob investigação. O Banco PAN, um dos principais operadores de crédito consignado do país, já foi alvo de múltiplas ações judiciais e sanções administrativas por práticas irregulares. Em 2021, o Procon-SP aplicou multa de R$ 11 milhões à instituição por não responder adequadamente sobre queixas de empréstimos não autorizados. Já em 2023, o banco foi condenado pela Justiça de Minas Gerais a pagar R$ 10 milhões por danos morais coletivos.

As fraudes geralmente envolvem idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade, que muitas vezes só percebem o golpe após descontos aparecerem nos extratos mensais. “É desesperador. A pessoa descobre que está pagando por algo que nunca contratou, e a restituição pode demorar meses”, disse Maria do Socorro, aposentada lesada pelo golpe em Manaus.

Para tentar conter os danos, o INSS adotou novas medidas de segurança. Em janeiro de 2025, uma resolução passou a determinar o bloqueio automático de descontos em caso de suspeita de fraude ou reclamação do beneficiário. O INSS também reforçou a orientação para que aposentados e pensionistas bloqueiem, preventivamente, a possibilidade de contratar empréstimos consignados através do portal Meu INSS ou pelo telefone 135.

O Ministério da Previdência reforçou que está colaborando com a Polícia Federal para identificar os envolvidos e recuperar os valores desviados. Fontes da investigação apontam que novas fases da operação devem atingir mais cidades e outras instituições financeiras.

Enquanto isso, especialistas em direito do consumidor alertam para a necessidade de mudanças mais profundas no sistema. “As brechas que permitem esse tipo de golpe ainda estão abertas. É preciso responsabilizar as instituições financeiras que lucram com essas fraudes”, afirma o advogado João Carlos Martins, especialista em direito bancário.

O caso segue em apuração e deve repercutir fortemente nos próximos meses, com potencial de gerar mudanças estruturais na forma como o crédito consignado é operado no Brasil.

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Publicado por
Marcus José