Pequenos empreendedores do AC já pediram mais de R$ 11 milhões em linhas de créditos durante a pandemia

Recursos são dos Fundos Constitucionais de Financiamento. Segundo levantamento, pequenos empreendedores do Acre já fizeram 137 financiamentos.

Pequenos empreendedores do AC já pediram mais de R$ 11 milhões em linhas de créditos durante a pandemia — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Pequenos empreendedores em atividades urbanas no Norte e no Nordeste contrataram, até o final de maio, R$ 433,6 milhões das linhas emergenciais de crédito dos Fundos Constitucionais de Financiamento.

____________

No Acre, os comerciantes já receberam um total de R$ 11,2 milhões referentes a 137 operações financeiras.

____________

É o que mostra um levantamento do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). A iniciativa do Governo Federal foi criada para tentar reduzir os impactos econômicos da pandemia de Covid-19.

Ao todo, foram disponibilizados, desde abril, R$ 5 bilhões com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte (FNO) e do Nordeste (FNE).

Os recursos são administrados pelo MDR e concedidos por meio de bancos públicos: Banco do Nordeste e Banco da Amazônia. São R$ 3 bilhões destinados à região nordeste e outros R$ 2 bilhões atendem os estados do Norte.

Dificuldade de acessar recursos

Embora o levantamento mostre que foram feitas mais de 170 operações financeiras no estado, os mais de 300 empreendedores de Rio Branco inscritos no Fórum Estadual de Economia Solidária do Acre não conseguiram ter acesso aos recursos das linhas emergenciais, segundo informou o coordenador, Carlos Taborga.

Burocracia e falta de informação foram os principais problemas encontrados pelos empreendedores quando tentaram fazer as operações financeiras.

“Com relação à Economia Solidária, não tenho conhecimento de nenhum que tenha acessado esses recursos, apesar de algumas tentativas. O que foi encontrado foi uma burocracia muito grande e uma dificuldade com relação ao banco, porque dá impressão que o banco ainda não conhece esse sistema. O nosso público tem pouca instrução, conhecimento e depende desse conhecimento do outro, ,se torna muito mais difícil a situação”, disse o coordenador.

Entre os empreendedores inscritos estão aqueles que atuam com prestação de serviço, artesanato, fornecimento de alimentos e diversão com parques, além de produtores de plantas ornamentais e fitoterápicas.

“Para garantir o sustento, temos empreendimentos que estão trabalhando e produzindo em casa, fazem a divulgação nas redes sociais e entregam na casa dos clientes. Tem que se adaptar, jogar o jogo conforme as regras”, afirmou Taborga.

‘De mãos atadas’, diz empresária

A empresária Maria Railda Carvalho é uma das que não conseguiu ter acesso às linhas de crédito emergenciais do governo federal. Ela tem uma empresa de doces tropicais que atua no mercado acreano há mais de 30 anos e tem 10 funcionários.

“Estou com 32 anos no mercado, nunca dei calote em ninguém e nem em banco nenhum, porque tenho um nome a zelar e vivo disso, minha família vive disso e meus funcionários também. Eles [funcionários] estão olhando um para a do outro, esperando alguma coisa de mim, e eu de mãos atadas. Tem noite que eu não durmo pensando no que vou fazer, pedindo direção de Deus”, disse a empresária.

Por conta da pandemia, empresária do AC calcula prejuízo de mais de R$ 10 mil na venda de doces regionais — Foto: Arquivo pessoal

Por conta da pandemia, ela estima um prejuízo de mais de R$ 10 mil com os materiais que acabaram se perdendo. Os pedidos reduziram e as vendas têm sido feitas apenas com entrega. A empresária lamenta não ter conseguido fazer o pedido dos recursos e diz que não sabe o que fazer para continuar pagando os funcionários e demais contas.

“Estou pedindo pelo amor de Deus, quero salvar minha empresa, eu vivo disso e tenho 10 famílias que precisam de mim. Estou vendendo um terreno para ver se consigo arcar com minhas responsabilidades. Tentei [acesso à linha de crédito] e não consegui, eles dizem para procurar uma agência do banco, e não querem fazer. Dos meus amigos que são micro empreendedores, ninguém conseguiu”, afirmou.

Como funciona a linha de crédito

Segundo o governo federal, vão ser disponibilizados empréstimos para capital de giro e investimentos. Nas duas situações, os financiamentos vão poder ser contratados enquanto o decreto de calamidade pública estiver em vigor, limitado a 31 de dezembro de 2020.

  • No caso do capital de giro, a oferta será de até R$ 100 mil por beneficiário. Os recursos podem ser utilizados com despesas de custeio, manutenção e formatação de estoques e, também, para o pagamento de funcionários, contribuições e despesas diversas com risco de não serem honradas por conta da redução ou paralisação das atividades produtivas.
  • Na modalidade investimentos, serão disponibilizados até R$ 200 mil por beneficiário, com a finalidade do empreendedor investir e, ao mesmo tempo, utilizar o recurso como capital de giro.

O prazo para quitação, informou o governo, vai ser de até 24 meses e carência até 31 de dezembro de 2020, de acordo com a capacidade de pagamento do beneficiário.

Conforme levantamento, nas regiões Norte e Nordeste, a maioria das contratações foi feita pela modalidade ‘capital de giro’. Foram contratados R$ 81,1 milhões no Norte, o que representa 96,8% do total até agora. Já no Nordeste, os financiamentos nesta categoria somaram R$ 335,8 milhões o equivalente a 96,2% do total disponibilizado pelo FNE.

Com relação à modalidade investimentos, no Nordeste, foram contratados R$ 13,1 milhões, e outros R$ 3,5 milhões foram acessados no Norte.

Comentários

Compartilhar
Publicado por
G1 Acre