A PF diz que ele era suspeito de ter relação com pagamento de propina negociada por Palocci com a Odebrecht.
Folha de São Paulo
A Odebrecht relatou no acordo de delação premiada com a Lava Jato que o senador Jorge Viana (PT-AC) recebeu R$ 300 mil em dinheiro vivo da empreiteira.
Um dos executivos do grupo que se tornou delator há duas semanas, junto a outros funcionários da empresa, disse à Procuradoria-Geral da República que se encontrou com o senador, hoje vice-presidente do Senado, em 2014, no L’Hotel, em São Paulo, para acertar o pagamento.
O dinheiro, segundo o funcionário da Odebrecht, foi entregue em espécie ao senador.
O mesmo executivo do grupo baiano disse que Tião Viana recebeu da Odebrecht R$ 2 milhões de caixa dois para sua campanha ao governo do Acre, em 2010.
Pessoas ligadas à investigação afirmaram à Folha que a empreiteira confirmou que o codinome “menino da Floresta”, que aparece na planilha “POSICAO – ITALIANO310712MO.xls” atrelada ao pagamento de R$ 2 milhões em 2010 se referia à campanha de Tião Viana.
Segundo relato nas negociações de delação, o pedido do dinheiro foi do irmão, Jorge, que saiu vitorioso na eleição ao Senado em 2010.
O funcionário da Odebrecht afirmou ainda que, para doar o montante, solicitou autorização do petista e ex-ministro Antonio Palocci, responsável, segundo as investigações, por gerenciar a conta usada para pagamentos ilícitos que a empreiteira tinha junto ao PT.
Com o aval de Palocci, os R$ 2 milhões foram pagos pelo setor de Operações Estruturadas, a área da empresa responsável pelo pagamento de propinas e caixa dois.
A versão apresentada pela Odebrecht na negociação da delação vai contra a hipótese levantada pelos investigadores da Lava Jato de que Jorge Viana era o “menino da Floresta” mencionado na planilha. O apelido, ao que consta, se refere a Tião Viana.
Em setembro, um ex-assessor do Senado ligado ao senador, Marcio Antônio Marucci, foi alvo de condução coercitiva na 35ª fase da Operação Lava Jato.
A PF diz que ele era suspeito de ter relação com pagamento de propina negociada por Palocci com a Odebrecht.
Um dos indícios que levaram os investigadores a terem essa suspeita é o de que a operação rastreou entregas de dinheiro no endereço de Marucci.
Em outro relatório, a PF levantou a hipótese de que Viana tenha recebido o dinheiro diretamente, sem usar intermediários de Palocci.
“A expressão ‘direto com Menino’ revelou que o pagamento possivelmente tenha sido liquidado sem a intermediação de Juscelino Antonio Dourado [ligado a Palocci] ou de outros agentes ligados a Antonio Palocci Filho”, diz o documento.
Essa não é a primeira vez que Tião Viana e a campanha dele de 2010 aparecem na Lava Jato. Em outubro, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) seguiu o posicionamento da Procuradoria-Geral da República e mandou arquivar a investigação que estava em andamento desde março em que o governador do Acre era suspeito de ter recebido R$ 300 mil da Iesa Óleo e Gás para sua campanha em troca de ter atuado a favor da empresa.
Até agora, não há inquérito aberto para investigar fatos relacionados ao senador Jorge Viana na Lava Jato.
OUTRO LADO
Procurado pela reportagem, o senador Jorge Viana afirmou que não comentaria o que, segundo ele, são “vazamentos seletivos à imprensa sobre supostas delações de diretores de empreiteiras”.
“Mas posso afirmar desde já que não pedi ou recebi recursos ilegais. Até porque, em 2014, não fui candidato a cargo eletivo. Igualmente, jamais recebi qualquer doação eleitoral em espécie. Assim, considero absurdas as suposições”, afirmou.
A reportagem o questionou sobre o suposto encontro, relatado pela Odebrecht, em que, segundo a empreiteira, o senador acertou o recebimento de R$ 300 mil em dinheiro vivo. Jorge Viana não respondeu às perguntas sobre o tema. “Qualquer tentativa de envolvimento do meu nome vai me obrigar a recorrer à Justiça para reparar eventuais danos e garantir meus direitos.”
O governador Tião Viana negou irregularidade e disse não acreditar que tenha sido citado. “Nunca me reuni com pessoas canalhas bandidas, ou até de bem da Odebrecht, sequer para tomar cafezinho. Essa empresa nunca trabalhou com o governo do Estado.”
“Estou muito longe dessa podridão e essa podridão está muito longe de mim. Todas as medidas judiciais serão tomadas, imediatamente, após a veiculação covarde do meu nome, o que faço desde que ingressei na vida pública”, afirmou o petista.
“Nossas campanhas foram limpas e não fizeram
uso de dinheiro ilegal”, diz Jorge Viana
O senador Jorge Viana [PT/AC] divulgou nota hoje pela manhã comentando a citação de seu nome como um dos beneficiados pela pela empresa Odebrecht. Veja íntegra:
Nota à imprensa
No dia que o país toma conhecimento do verdadeiro esquema de corrupção que assola Brasília, capaz de varrer o PMDB da vida política e derrubar o governo Temer, líder do golpe parlamentar que tirou a presidenta Dilma Rousseff do poder, tomo conhecimento de reportagem da Folha de S. Paulo tentando envolver o meu nome e o do governador Tião Viana em supostas doações ilegais de campanha.
Tais informações são absurdas e mentirosas. Em 2014, nem fui candidato a nada e Tião Viana foi reeleito em função do bom trabalho que estava – e está – fazendo no governo. Nossas campanhas foram limpas e não fizeram uso de dinheiro ilegal.
Minha eleição para o Senado em 2010 se deu em função do trabalho que fiz no Acre, como prefeito e governador. É lamentável que hoje, quando o Brasil acorda com a revelação do grande esquema de corrupção no governo Temer, tenta-se atingir a atuação política do PT no estado.
Jamais recebi dinheiro em espécie para minha campanha eleitoral. Em 2010, minha campanha ao Senado custou R$ 968,1 mil, dos quais R$ 280 mil foram repassados a outros candidatos. Os recursos foram declarados e minhas contas aprovadas pela Justiça Eleitoral, de acordo com a legislação vigente.
O governador Tião Viana, com o sentimento de indignação dos injustiçados, reagiu de pronto a esse absurdo de forma enérgica. Todos nós que o conhecemos sabemos da sua retidão. Estamos longe desse mar de lama e vamos agora buscar na Justiça nossos direitos para assegurar a nossa honra.
Toda a ação política que tivemos no Acre é baseada no trabalho feito com honestidade. Foi assim comigo, com o governador Binho e o governador Tião. O mesmo na prefeitura de Rio Branco, comigo, com Angelim e Marcus Alexandre.
O povo do Acre nos conhece e sabe que, em mais de duas décadas de vida pública, nunca tivemos nossos nomes envolvidos em corrupção.
Senador Jorge Viana (PT-AC)