O acidente de avião que causou a morte de duas pessoas em dezembro do ano passado em Manicoré (a 1.058 quilômetros de Manaus) gerou debate sobre os desafios e riscos enfrentados por pilotos que sobrevoam a Floresta Amazônica. A floresta densa e condições meteorológicas adversas causam desorientação e geram riscos à aviação, informou o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo).
Segundo a FAB (Força Aérea Brasileira), a densa vegetação compromete a identificação de pontos de referência no solo dificultando o voo visual, especialmente à noite, quando a floresta permanece em completa escuridão. Além disso, a frequente neblina matinal reduz significativamente a visibilidade. “À noite, a floresta é escura, aumentando a dificuldade de orientação”, diz o Decea.
A vegetação densa também impede pousos de emergência, enquanto o clima instável, com tempestades localizadas, adiciona camadas de complexidade à navegação.
Em vídeos publicados no YouTube, o piloto Alves Tavares, relata a experiência e desafios que é sobrevoar na Amazônia. Em um dos vídeos, ele diz que está saindo de Tabatinga com destino para São Paulo de Olivença, que segundo ele, fica a 35 minutos de voo e cita que para “voar na Amazônia é preciso ter precações”.
“Tem muita umidade. Amazônia é muito úmida. A Amazônia você tem que tomar algumas preocupações para voar aqui. Geralmente, para quem não conhece a região, eu sempre indico fazer voo visual, na parte do dia, até meio-dia”, orienta o piloto, acrescentando que a maioria da Amazônia é de “regiões isoladas” onde só “há selva bruta”.
Alves Tavares reforça que viajar durante o dia, principalmente, antes do meio-dia, é a melhor opção para quem não conhece a região, pois assim o piloto tem melhor visão da área. Ele orienta também sempre olhar as condições meteorológicas.
A FAB cita também que não é incomum que aeródromos na região não possuam homologação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para operações noturnas devido à falta de infraestrutura, como balizamento de pista, iluminação adequada e instrumentos de auxílio à navegação.
“A ausência de infraestrutura básica limita as operações nos aeródromos”, destaca o Decea, que acrescenta que, em rota, a infraestrutura é mais robusta, com sistemas de radares, frequências de comunicação e auxílios à navegação que asseguram a continuidade dos serviços.
O DECEA esclarece que, em áreas habitadas, a aeronave deve manter uma altura mínima de 300 metros acima do obstáculo mais alto em um raio de 600 metros. Em áreas não habitadas, como a Floresta Amazônica, essa altura pode ser reduzida para 150 metros acima do solo ou da água, salvo em situações de pouso ou decolagem.
Mesmo assim, o Decea, diz que a depender das condições climáticas e da densidade da floresta, as operações tornam-se mais desafiadoras em áreas remotas, onde os riscos são ampliados pela falta de infraestrutura de apoio e suporte logístico.
“Ressalta-se também que, ao voar sobre a Floresta Amazônica, os pilotos devem evitar depender exclusivamente de navegação visual, realizar operações noturnas em locais inadequados e voar sem planejamento adequado. Existem áreas na floresta que possuem mais riscos para as aeronaves, como as mais remotas e de difícil acesso, especialmente locais distantes de aeródromos ou infraestrutura de apoio”, cita.
Para melhorar a segurança dos voos na região, o Decea defende investimentos na infraestrutura aeroportuária e em tecnologia de navegação embarcada. Modernizar os equipamentos das aeronaves e garantir condições básicas de operação nos aeródromos locais são medidas que podem minimizar os desafios impostos pela floresta e pelo clima amazônico.
A complexidade da região exige planejamento meticuloso, infraestrutura adequada e tecnologias avançadas para a aviação continuar a operar de forma segura e eficiente sobre a maior floresta tropical do mundo.