Por Victor Lebre
Não é incomum ouvir pessoas mais velhas falarem isso, especialmente em Rio Branco, onde o desenvolvimento urbano está relacionado à exploração de terras por latifundiários. No caso da Baixada da Sobral, o maior aglomerado de bairros da capital acreana, isso se confirma.
“Quando eu cheguei, tudo isso aqui era mato”
Atualmente, a regional se confirma como o maior aglomerado de bairros de Rio Branco. No total, mais de 100 mil pessoas moram nos 18 bairros existentes na localidade, ultrapassando até a quantidade de moradores de Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do estado.
O bairro Sobral herdou o nome de uma fazenda que funcionava no local. A região cresceu em volta do estabelecimento e do Aeroporto Francisco Salgado Filho, que deu origem ao bairro Aeroporto Velho.
De acordo com o estudo “Percepção de risco dos moradores de área com inundações recorrentes: análise nos bairros da Baixada da Sobral”, do curso de Geografia da Universidade Federal do Acre (Ufac), este desenvolvimento se deu, principalmente, na década de 1970, após o fim do segundo ciclo da borracha.
“Quando o sistema extrativista da borracha entrou em crise, o governador Vanderley Dantas decidiu estimular a vinda de grandes empresas, fazendeiros e especuladores de terras para o Acre e, dessa forma, o Estado passou de um sistema econômico baseado no extrativismo para uma economia agrícola”, ressalta a pesquisa.
O estudo explica ainda que os primeiros bairros da região da baixada foram Aeroporto Velho, Bahia, Palmeiral, Glória, Pista, Bahia Nova, João Eduardo I e João Eduardo II. A partir de 1983, outros bairros começaram a surgir.
Nessa época, foi quando a professora Janete Figueiredo chegou ao bairro Sobral. Ela, que já foi presidente da associação de moradores do bairro por seis mandatos e conselheira municipal representando a regional, lembra que a região se desenvolveu muito.
“Era o povo que vinha da zona rural, dos seringais, e não tinha conhecimento, não tinha intimidade com a rua. Vieram para cá, para a Baixada. Aquele pessoal antigo foi se juntando. Era uma fazenda, com o nome de Fazenda Sobral. Então, começou dali, e foi evoluindo. Na época que eu cheguei aqui, o que funcionava? Era o Aeroporto Velho, a única coisa que funcionava, era só até ali. O ônibus que vinha do Centro, só vinha até ali. Para cá, para cima, não tinha mais nada. Só tinha fazenda, gado, boi. Começou evoluindo, evoluindo, evoluindo, e já estamos em 18 bairros”, relembra.
Atualmente, compõem a Baixada da Sobral os seguintes bairros:
Entre os anos de 2008 e 2009, os moradores participaram de uma eleição que escolheu um nome para a regional. O nome, escolhido por votação popular, foi apresentado ao conselho municipal, mas não chegou a ser adotado oficialmente.
Na regional que acolheu pessoas de origens tão diferentes, a produtora cultural Arinete Araújo se encontrou. Ela também se lembra dos bairros ainda no estágio inicial de desenvolvimento.
Com o passar dos anos e o envolvimento com a comunidade, Arinete também participou da formação da quadrilha junina Assanhados na Roça, que representa a regional, e já existe há cerca de 30 anos.
Arinete conta que a junina surgiu a partir de uma ideia de Janete, que notou a falta de opções de lazer e diversão na região, apenas alguns campos de futebol e igrejas.
Ela entrou na organização para ajudar na presidência por um mês, pois, como deficiente, tinha direito a um cartão de ônibus especial, o que facilitava na participação em reuniões no quadrilhódromo, que ficava longe da regional. Porém, acabou sendo escolhida como líder da junina, e ajudou a desenvolver.
“A gente corria atrás de ir para a reunião, e aí começou a vir um bairro, começou a vir outro, aí nós sentávamos com os moradores para escolher os nomes dos bairros. Participei de várias coisas, do João Eduardo também, que, através da igreja, a gente fazia todo o acompanhamento, aquela luta na assistência social, economia solidária, Mesa Brasil”, ressalta.
E a grande população da baixada não costuma abandonar os seus. O goleiro Weverton ganhou uma homenagens dos torcedores acreanos na véspera da estreia da Seleção na Copa do Mundo do Catar, em 2022. Um boneco que simboliza o jogador acreano foi pendurado em cima de uma placa de sinalização na Avenida Sobral.
Vestido com camisa da amarela, o boneco foi colocado de braços abertos. Uma bandeira do Brasil também foi pendurada no mesmo local. Os familiares do jogador em Rio Branco, informaram que nem o boneco e nem a bandeira foram colocados pela família.
Quem também homenageou Weverton foram as crianças da Creche Sorriso de Criança, situada na baixada. Ao lado dos educadores, as crianças produziram banners personalizados para o goleiro.