Nomeação de primeira-dama para atuar junto a secretarias pode ser improbidade mesmo sem ônus

Caso assine algum serviço técnico – Marlucia é arquiteta, isso pode configurar, em tese, um enriquecimento de currículo e aumentar o cacife da primeira dama em projetos futuros.

Tião Viana e a primeira-dama Marlúcia Cândido (Foto: internet)

Com Regis Paiva

A nomeação de Marlucia Candida de Oliveira Neves, esposa do governador do Estado, Tião Viana, para trabalhar sem pagamento junto às secretarias de Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e da Secretaria de Estado do Ciência e Tecnologia (Sect) pode se tornar em mais uma dor de cabeça para o chefe de governo: o caso pode ser investigado como improbidade administrativa pelo Ministério Público do Estado do Acre (MPAC).

Apesar da nomeação ter sido feita sem ônus (despesas) para o Estado, não sendo destinada qualquer remuneração para a esposa do Governador, somente a presença dela nos grupos de trabalho já pode criar um clima de mal-estar junto aos demais técnicos.

Além disso, caso assine algum serviço técnico – Marlucia é arquiteta, isso pode configurar, em tese, um enriquecimento de currículo e aumentar o cacife da primeira dama em projetos futuros.

A nomeação da primeira-dama

Conforme consta na Portaria Nº 76/2018 da Secretaria de Estado da Casa Civil (Diário Oficial do Estado do Acre-DOE Nº 12.329) Marlucia Neves foi nomeada para “desempenhar serviços como Colaboradora Eventual da Sema e da Sect, no Programa de Desenvolvimento Sustentável do Acre (Pdsa-II) e do Projeto Centro Vocacional Tecnológico do Bambu (CVT Bambu).

O fato da primeira dama participar esporadicamente de atividades do governo do Estado não seria visto com outros olhos, exceto se esta imiscui-se e passar a gerir os destinos dos órgãos. Afinal, é pouco provável que mesmo um secretário de Estado se posicione contrário à vontade da primeira dama.

Nomeação de Marlúcia foi publicada no Diário Oficial do dia 22 de junho

Enriquecimento irregular de currículo?

Ocorre que o enriquecimento não se dá apenas com os ganhos financeiros imediatos. No caso dos arquitetos, como o é a esposa do governador, isso pode se dar com a assinatura dela em projetos ligados à área ou mesmo com a simples comprovação de que a pessoa tenha participado de algum trabalho ligado à sua área de formação.

Conforme sentenciado no 3º Juizado Especial Cível do Tribunal de Justiça do Estado (TJAC) no processo n° 0602467-87.2017.8.01.0070 em ação perdida pela própria Marlucia Neves, o magistrado fez registrar:

“Registre-se, no ponto, que mesmo sem receber recursos pelos projetos colocados à disposição do poder público (aeroporto, museu, para citar exemplos referidos nos autos), a demandante acaba por divulgar e apresentar o seu trabalho como arquiteta para a sociedade, o mercado de consumo e possíveis interessados em contratá-la, ou seja, constrói bom portfólio para valorizar sua trajetória profissional, o que não deixa de ser uma vantagem (e aqui não se questiona se seria lícita ou ilícita)”.

MPAC pode ser chamado a investigar

Apesar da nomeação e também da sentença serem públicas, até o momento não existe uma maior investigação sobre o caso. Ao menos que seja de conhecimento geral.

Segundo uma fonte ligada ao MPAC, a sentença prolatada pelo magistrado deveria ter sido trazida à público e se tornado uma ação de investigação de enriquecimento por se tratar, em tese, de um trabalho falsamente gratuito. Além do mais, o constante na sentença configuraria, também em tese, em improbidade administrativa.

Agora fica a dúvida se o órgão fiscal da Lei vai investigar o caso. Em decisão recente e contrária ao entendimento de MPs de outrosEstados, o MPAC arquivou uma investigação sobre o uso inadequado do helicóptero do Estado por parte da primeira dama.

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Publicado por
Marcus José