No AC, casal adota criança que nasceu com Síndrome Alcoólica Fetal e luta para conscientizar gestantes

Ana Vitória, de 7 anos, nasceu de seis meses, pesando 1kg e chegou a ser desenganada pelos médicos. ‘Disseram que ela não iria sentar, andar, falar e hoje ela tem uma vida normal’, diz mãe.

Por Janine Brasil, G1 AC - Rio Branco

Ana Vitória. Não foi por acaso que a engenheira agrônoma Cleísa Cartaxo e o marido, o administrador Cleiver Lima, escolheram o nome que deram à filha, que tem sete anos, e é portadora da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) – doença que afeta bebês de mães que ingerem bebidas alcoólicas durante a gravidez.

A mãe conta que estava na fila de adoção quando passou por uma entrevista com a psicóloga do programa e soube de uma menina de aproximadamente nove meses que esperava por um lar, mas que tinha limitações e uma síndrome ainda desconhecida. Além de Vitória, o casal também adotou Maria Clara.

“Eu já tinha entrado no processo de adoção, aí falaram dela para gente e que ela tinha algumas limitações e, mesmo assim, pensamos: ‘é a nossa filha, foi Deus que deu’. Lembro que a psicóloga perguntou – por que que vocês não colocaram características? A única característica que pedimos era que a criança tivesse até um ano, porque eu não tinha experiência nenhuma de como era ser mãe”, relembra.

Vitória tinha quase dez meses quando foi adorada pelo casal Cleiver Lima e Cleísa Cartacho (Foto: Arquivo Pessoal)

A engenheira relata que o marido foi no abrigo ver a criança antes dela, mas, quando chegou em casa, disse que a filha deles estava esperando e que ela era do jeito que eles haviam sonhado.

“Lembro de quando fui visitá-la no abrigo, ela não se mexia, estava lá no berço, magrinha, ficou o tempo todo no meu colo. Quando eu fui embora ela me acompanhou com os olhos e eu disse a ela, ‘não se preocupe, minha filha, eu vou voltar’. Na verdade eu queria levar ela comigo naquele momento”, diz emocionada.

Depois de concretizada a adoção, uma história de amor e superação pode ser definida como a corrida dos pais até saber o que a filha tinha. Inicialmente, eles pensaram que ela poderia ter Síndrome de Down.

“Durante muito tempo a gente lutou para saber que síndrome a Vitória tinha, procuramos os médicos que acompanhavam ela no abrigo e eles disseram que sabiam que ela tinha uma síndrome, mas não haviam detectado ainda qual era. Eles disseram que provavelmente ela não iria sentar, andar, falar, tanto que quando ela tinha dez meses e nem se arrastava no berço direito”, lembra Cleísa.

Vitória foi diagnosticada com a síndrome quando ainda tinha dez meses (Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre)

No dia em que saiu a guarda provisória de Vitória, no dia 21 de junho de 2011, Cleísa conta que a menina estava muito doente.

“Estava muito cheia de secreção, não conseguia respirar direito, nós levamos ela no Hospital da Criança e a médica disse que já tinha atendido a Vivi várias vezes com pneumonia e disse que se ela tivesse mais uma iria morrer, aí eu pirei, começou nossa caminhada até saber o que ela tinha”, acrescentou.

Por causa da doença, Vitória nasceu de seis meses com apenas um quilo. Aos dez meses, a engenheira conta que ela conseguiu engordar apenas dois. Dentre os vários problemas de saúde que a pequena tinha, uma fenda no céu da boca – fenda palatina – a impedia de comer e ganhar peso.

“Ela só tomava leite, mas tomava pela boca e voltava pelo nariz por causa da fenda. O céu da boca dela era aberto até quase perto do dente. Para comer, ela tinha que estar em uma posição que na hora de engolir não viesse tudo para o nariz, ela não podia estar deitada tinha que ser sentada. Para ela mamar, era tipo uma hora dando bem devagar para a comida ir descendo, por isso tivemos que fazer a cirurgia”, fala.

Sobre a SAF

A SAF ocorre quando a mãe ingere álcool durante a gestação. A bebida atravessa a proteção da placenta, diminui a quantidade de oxigênio enviada ao embrião e afeta o desenvolvimento do cérebro e os ossos podem crescer deformados. O sistema nervoso central e o coração também podem ficar comprometidos. A criança pode apresentar limitações motoras e intelectuais.

Ao G1, o Ministério da Saúde informou que a prevalência da SAF no Brasil já foi estimada em 1/1.000 nascidos vivos, mas pode estar subestimada, considerando a dificuldade de diagnóstico, a não obrigatoriedade da notificação e a tendência crescente de consumo de bebidas alcoólicas pelas mulheres e seu consumo significativo pelas gestantes no Brasil.

O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Virgílio Prado, disse que os dados no Brasil são precários e que no Acre não é diferente. “Não temos esses índices de prevalência, mas os relatos dos colegas pediatras identificam que a síndrome pode estar crescente aqui no estado”, falou.

Pais alertam mães que bebem durante a gravidez (Foto: Arquivo Pessoal)

Diagnóstico

Cleiver Lima, pai de Vitória, disse que quem deu o diagnóstico da síndrome foi um médico de São Paulo (SP). “Marcamos uma consulta com um especialista e ele só de olhar para ela deu o diagnóstico. Ele disse que no Brasil não tinham informações específicas do número de casos, mas que fora do país essa síndrome era frequente”, afirmou.

Cleísa diz que a ideia da campanha é a de informar as mães e não criminalizá-las. “Temos que ter o cuidado de não criminalizar essa mãe, porque ela é tão vítima quanto a crinaça, vítima da falta de informação, que não é repassada à sociedade”, completa.

Consumo de álcool na gravidez afeta desenvolvimento do bebê (Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre )

Comentários

Compartilhar
Publicado por
Alexandre Lima