Monumento às vítimas de acidente aéreo é um dos mais visitados no Cemitério São João Batista, na capital

Por: Wanglézio Braga / acrenews

A poucos metros do portão principal do Cemitério São João Batista, em Rio Branco, logo se vê um espaço que parece mais um monumento do que um jazigo. Na realidade, trata-se de um sepulcro que recebe centenas de visitantes durante a passagem do “Dia dos Finados”. Ele foi construído em memória às pessoas que morreram num trágico acidente aéreo ocorrido em Brasileia, interior do Acre.

Para retratar um pouco dessa história, recorremos aos jornais da época que relataram esse triste episódio da aviação acreana. O ano é 1977, mais precisamente no dia 07 de outubro, sexta-feira. Um monomotor Cherokee-300 (PT-DDT) que havia decolado de Rio Branco para Brasileia (Fronteira Brasil/Bolívia) levando consigo sete passageiros, sendo que dois eram secretários do governo Geraldo Mesquita, explodiu no município após o motor pegar fogo em pleno ar. O grupo participara de uma solenidade de inauguração do Posto Policial e da sede do Alojamento do 5° Batalhão da Polícia Militar do Acre.

A bordo estavam o Secretário de Obras Públicas; Cleto Reinaldo Ramos (34), o Secretário de Segurança Pública; José Maria de Castro Araújo (43), o Coordenador Administrativo da Secretaria de Segurança; Otacílio Paulino de Almeida (34) O Empresário e Empreiteiro; Odorico Andrade (57), o Empreiteiro; José Cordeiro Barbosa Filho (48), O empresário; Júlio Gutierrez e o Piloto; Luis Duarte Franco (39).

A aeronave pertencia a Luís Franco que fretou pelo valor de Cr$ 1800 para conduzir as autoridades até Brasileia num voo de aproximadamente 45 minutos. Às 8h13mim, quando sobrevoava o destino final, o aparelho já em chamas, explodiu a 20 metros do Rio Acre, 500 metros do centro da cidade e a 30 metros do cemitério da cidade. Todos os ocupantes morreram carbonizados. Do avião sobraram apenas pedaços do motor e uma hélice retorcida.

No momento do acidente, o fotógrafo José do Vale Sobrinho registrava um batizado quando ouviu um barulho estranho, quando inclinou a cabeça para o céu avistou uma grande labareda. À imprensa, ele relatou que além de ouvir o barulho, avistou a aeronave a baixa altura e em seguida a explosão. Segundo ele, com ajuda de uma vara conseguiu retirar os corpos já carbonizados. Ele acreditou que o piloto tentou jogar o aparelho no rio, senão teria pegado a direção contrária.

Os corpos foram conduzidos para o “Hospital Raimundo Chaar” para identificações preliminares. O governador em Exercício, Omar Sabino de Paula, seguiu para o município e ao voltar decretou luto por três dias. A Federação Acreana de Desporto (FAD) adiou a partida de futebol pelo campeonato acreano que aconteceria naquele dia. Estava em campo o time do Vasco da Gama e Internacional. Logo em seguida aconteceria a partida Independência e Andirá.

Os restos mortais dos passageiros do Cherokee-300 foram conduzidos num Cessna (PT-BVK) que pousou no Presidente Médici no final da tarde envolvidos num lençol e com identificação presumida em tiras de esparadrapos. Cerca de 200 pessoas viram de longe os lençóis enrolados com os corpos das sete vítimas. Seis monomotores aterrissaram simultaneamente no aeroporto da capital acreana.

As aeronaves trouxeram o vice-governador, diretor-geral do Departamento de Estradas, comandante da PM, familiares e repórteres, além da equipe médica de identificação. Horas antes um temporal caiu sobre a cidade o que atrasou o pouso da comitiva.

Seis corpos foram velados em Rio Branco na igreja Nossa Senhora de Nazaré. As bandeiras brasileiras cobriram as urnas dos secretários. Uma bandeira do Lions estava sobre a urna mortuária do empreiteiro Odorico Rodrigues de Andrade. Nos outros quatro caixões havia coroas de flores. O corpo do piloto foi levado a Porto Velho (Rondônia).

Pontualmente às nove horas de sábado 08 de outubro os caixões saíram da igreja, levados por autoridades e colocados em dois carros do Corpo de Bombeiros até o Cemitério São João Batista, seguindo o desfile fúnebre de centenas de carros. No cemitério, após os tiros de fuzis pela Polícia Militar, os presentes fizeram um minuto de silêncio.

Durante esse fato histórico foi possível captar dados interessantes sobre as vítimas. Por exemplo, no caso do funcionário público Otacílio de Almeida. O seu progenitor Luis de Almeida e Silva também morreu de forma trágica, sendo no dia 12 de dezembro de 1962, ao explodir o Constellation da Panair do Brasil, a cinco minutos de Manaus (AM).

José Cordeiro Barbosa havia retornado um dia antes de Brasileia. Por insistência do Secretário de Segurança e do Secretário de Obras, aceitou embarcar para a cidade. Júlio Gutierrez era boliviano de Cobija. Ele havia convencido um senhor que estava praticamente no avião a deixá-lo viajar por ter urgência em resolver problemas no seu comércio em Brasileia. A insistência acabou fatal para o comerciante.

Cleto Reinaldo Ramos, o Secretário de Obras era considerado filho do governador. Era engenheiro, foi diretor-técnico da Cohab, engenheiro-fiscal das obras da Caixa Econômica Federal. Pretendia concorrer às eleições para Deputado Federal. Era também presidente do Conselho Rodoviário do Estado e da Comissão de Licitações.

O piloto Luis Duarte estava há pouco tempo no Acre. Possuía dois aviões e exatamente no dia em que morreu fazia um ano que sofrera um acidente aéreo em Boca do Acre em que era passageiro o Secretário de Segurança do Amazonas, Castro Araújo. Era considerado um dos melhores pilotos da região.

Após alguns meses dos sepultamentos das vítimas, o governo à época mandou construir o monumento em forma de jazigo para que as gerações não se esqueçam deste triste episódio da aviação acreana.

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Publicado por
Da Redação