Maior receio dos EUA é Brasil vender miúdos para Ásia, diz Abiec

Presidente da associação de exportadores de carnes destaca que há momento diplomático para Japão habilitar frigoríficos brasileiros ainda este ano

Churrasco de língua de boi é iguaria gourmet no Japão • Pixabay / kazaha7

Com o crescimento populacional e a elevação da renda, a Ásia se consolidou como a prioridade do setor de carne bovina brasileiro.

O mercado asiático é visto como “a menina dos olhos” dos exportadores nacionais, que buscam expandir as vendas não apenas de cortes tradicionais, mas principalmente de miúdos — produtos de alto valor agregado que têm forte aceitação cultural e religiosa em países da região.

Para se ter uma noção, o mercado de língua bovina no Japão chega a pagar entre US$ 10 e US$ 12 o quilo, enquanto o Brasil exporta o mesmo produto a cerca de US$ 2, segundo o presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), Roberto Perosa.

De acordo com o executivo, essa diferença de até seis vezes mostra o potencial de agregação de valor que os miúdos representam para a indústria nacional.

“Quem já foi no Japão sabe: numa churrascaria, em vez de servir a picanha fatiada como aqui [no Brasil], servem a língua fatiada, e é considerada um churrasco gourmet. Então, é costume. Se servir a língua aqui, poucas pessoas vão comer, mas lá é um produto valorizado. É essa a estratégia da indústria bovina brasileira”, explicou em coletiva de imprensa nesta terça-feira (9).

Para Perosa, o maior medo dos americanos é o Brasil ampliar o acesso ao mercado asiático, justamente pela dimensão da demanda.

“Os Estados Unidos têm receio de perder espaço na Ásia porque sabem que não conseguem competir em escala com o Brasil. Eles têm teto de produção, e a Austrália também”, afirmou.

“Então, quando a gente abre espaço na Ásia, é um caminho sem volta. Esse é o grande ponto: a carne magra produzida pelo Brasil é necessária no mundo todo, mas é na Ásia que está o futuro do consumo”, pontuou.

Desta forma, uma das estratégias para ampliar a presença no mercado japonês é aproveitar o ambiente diplomático criado pelas recentes agendas entre os dois países e a COP30, conferência do clima que acontecerá em novembro em Belém (PA).

Mas tudo começou a avançar em março deste ano, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve no Japão após seis anos sem o país lançar um convite para visita de Estado para qualquer nação. Na ocasião, foram assinados tratados de cooperação em diversas áreas, inclusive a agropecuária.

Após o encontro, uma comitiva japonesa esteve no Brasil para averiguar os frigoríficos do país. O Japão é um dos países mais rigorosos em critérios sanitários sobre carne bovina do mundo.

Segundo Roberto Perosa, os movimentos mostram avanços concretos para a abertura de mercado para a carne bovina brasileira.

“É claro que isso está tudo em negociação ainda com o Ministério da Agricultura brasileira, que é o ministério e o órgão responsável por negociar com o governo japonês a abertura do mercado”, ponderou.

“A gente costuma dizer que existe um momento diplomático para haver esse anúncio. O momento diplomático está dado, e eu acho que é na COP, com a visita do primeiro-ministro japonês”, frisou.

Para além das tratativas com o mercado nipônico, nesta segunda-feira (8), a Indonésia anunciou a habilitação de 17 novas plantas brasileiras, elevando para 38 o número de frigoríficos aptos a exportar carne bovina ao país.

O governo indonésio também autorizou a entrada de carne com osso, miúdos e produtos preparados, ampliando o portfólio brasileiro no mercado local.

Em 2025, as exportações para a Indonésia já somam 15,4 mil toneladas, gerando US$ 71,6 milhões, um salto de 258,9% em valor e 253% em volume em relação ao mesmo período de 2024.

Entre janeiro e agosto, o Brasil exportou 2 milhões de toneladas de carne bovina, alta de 20% frente a 2024, com faturamento de US$ 10,7 bilhões, avanço de 33%.

A China segue como principal destino, com 1 milhão de toneladas (US$ 5,4 bilhões), consolidando a liderança asiática no consumo da proteína brasileira.

Nos próximos meses, Perosa e sua equipe devem viajar para a China a fim de ampliar o diálogo para avançar com as negociações.

Perspectivas para 2025 e 2026

No balanço da Abiec, para as exportações em geral, a expectativa calculada em dezembro passado era de crescimento de 12% no volume e 14% no faturamento das exportações brasileiras de carne bovina em 2025.

O resultado parcial do ano já superou a previsão, com avanço de 16% em valor e de 12% em volume.

“Fizemos um compilado no fim do ano passado e projetamos 12% de incremento no volume de exportação, fazendo com que a gente passe de 13 milhões de toneladas de carne exportada e 14% em faturamento no incremento também do setor em 2025”, disse Perosa.

“E, para minha surpresa, isso está mantido, e está dando acima. Está dando 12% no volume, e no faturamento está dando um pouquinho mais, está dando 16%, mas muito em linha com o estudo que nós fizemos em dezembro.”

O dirigente ressaltou que, mesmo diante do impacto do tarifaço dos Estados Unidos, a diversificação geográfica tem sustentado os embarques.

“Claro que tem país a mais [recebendo exportações], tem país que diminuiu [a compra], mas no conjunto das exportações a gente está mantendo esse equilíbrio”, completou.

 

Fonte: CNN

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Da Redação