Por Alcinete Gadelha e Janine Brasil, G1 AC
Longe de casa e da família, enfrentando o desemprego por causa da pandemia da Covid-19, os imigrantes que estão impedidos de atravessar a fronteira do Brasil com o Peru, na cidade de Assis Brasil, no interior do Acre, vivem a angústia de tentar sair do país e não saber quando as coisas podem melhorar.
Os imigrantes, na maioria haitianos, estão no interior do Acre na tentativa de deixar o país, mas, foram impedidos de entrar na cidade peruana de Iñapari. No dia 14 de fevereiro eles ocuparam a Ponte da Integração. Na mesma semana, chegaram a forçar a entrada no país vizinho, mas foram mandados de volta.
Foi quase um mês com a ponte fechada. No local, chegaram a ter mais de 300 estrangeiros. Após serem impedidos de entra no país vizinho, um grupo continuou acampado e impedia o transporte de cargas entre os dois países. O fluxo só foi liberado na tarde de segunda (9), de forma pacífica, após uma ordem de reintegração de posse da Justiça Federal que atendia a um pedido de liminar da União.
A ponte foi liberada, e a passagem dos veículos também. Porém, o drama dos imigrantes ainda parece estar longe do fim.
Guyto Viellot conta saiu do Haiti em 2015 e ficou pouco mais de um ano no Brasil. Depois, foi para o Chile porque tinha um filho que estava lá e ficou pelo menos um ano, mas retornou ao Brasil novamente por não ser o que ele esperava. Em Assis Brasil, ele está com um grupo de mais 13 pessoas entre familiares e amigos.
“Deixei meu país, porque é bem perigoso politicamente. Deus abençoa o povo brasileiro. Eles ajudam muito os imigrantes, somos bem vindos aqui. O maior problema é a incerteza. Eles [Peru] falam que vão abrir em setembro, mas eles não querem deixar a gente passar por causa da Covid-19. Se eles quisessem ajudar os imigrantes deixavam o ônibus passar, higienizava todo mundo. A gente só passar, se eles não querem que a gente desça no país deles a gente passa direto”, desabafa.
O haitiano fala que o objetivo é chegar em países como EUA, Canadá, Chile, locais onde a maioria tem familiares. Ele lamenta pelo fato de estarem impedidos de passar pela fronteira e ainda ressalta que os gastos para a viagem são altos e se quiserem voltar ao país de origem precisam gastar em torno de R$ 6 mil a R$ 7 mil.
“É difícil, mas, com fé em Deus, tudo vai dar certo. Deus nunca deixa um filho sozinho, Ele vai abrir um caminho para todo mundo passar, eu acredito nisso”, torce.
O colombiano Hector Júlio Villalba Castro, de 56 anos, está acompanhado da esposa e filho, ele conta que estava na Venezuela, onde morou por pelo menos 11 anos, está na fronteira e tenta seguir para o Rio Grande do Sul.
“Na Venezuela nós conhecemos alguns pastores que nos falaram para irmos ao Brasil, aí decidimos vir para o Brasil e, agora, estamos querendo ir para o Rio Grande do Sul, em Caxias do Sul. A gente veio, mas não sabíamos que estava fechado e que não tinha saída. A gente está esperando, não temos documentação. O Brasil tem um pouco mais de trabalho e um pouco mais de oportunidade, tem mais saídas. Eu sou professor”, diz.