Grupo de haitianos desiste de cruzar fronteira e embarca para a Capital

Momento em que o grupo passava pela cidade de Brasiléia – foto: Alexandre Lima

Por Raimari Cardoso

A irredutibilidade do governo peruano em abrir a fronteira para a passagem dos imigrantes que se encontram em Assis Brasil aguardando autorização para seguir viagem pelo país andino começa a fragilizar o movimento iniciado no último domingo (14) que ocupou a Ponte da Integração e culminou com a invasão da cidade de Iñapari pelos estrangeiros.

Obrigados pelas autoridades peruanas a voltar para o lado brasileiro, os imigrantes se dividiram entre um grupo formado na maioria por mulheres e crianças, que resolveu voltar para os abrigos em Assis Brasil, e por outro, composto por homens, que permaneceu na ponte, de maneira a prosseguir pressionando o governo do país vizinho a permitir a passagem.

Diante da manutenção da posição peruana de não permitir o ingresso em seu território, alguns estrangeiros começaram a desistir de cruzar a fronteira. No começo da noite desta sexta-feira, 19, um grupo de 20 haitianos embarcou de volta para Rio Branco, de onde pretendem retornar para São Paulo. Eles foram levados à capital acreana em um ônibus da prefeitura de Assis Brasil.

O prefeito Jerry Correia disse que muitos dos estrangeiros até desejam retornar para os lugares onde estavam no Brasil, mas não possuem as condições para isso, pois foram roubados ou perderam o que tinham. Segundo ele, o governo federal precisa criar as condições para que eles possam voltar, pois o governo peruano está certo de que não vai recuar.

Momento do embarque na cidade de Assis Brasil – Foto: Cedida

“Quantos mais queiram voltar, nós estamos criando as condições porque é necessário diminuir esse número que temos aqui. Eu espero que esse movimento de retorno cresça e que todas as condições sejam criadas pelo governo para isso, pois o Peru está certo de que não abre a fronteira de forma nenhuma”, disse o prefeito de Assis Brasil.

Desde que estourou a atual crise relacionada aos imigrantes estrangeiros, Assis Brasil se tornou a cidade acreana mais citada nos veículos de comunicação de todo o país. A repercussão levou até lá, nesta sexta-feira, o secretário Nacional de Assistência Social, do Ministério da Cidadania, Miguel Ângelo Gomes, mas a visita não deixou o gestor municipal entusiasmado.

“A gente ficou grato pela presença e tudo, mas não tivemos ainda, infelizmente, uma tomada de decisão por parte do governo federal que resolva o problema ou mitigue a situação que vivemos aqui. Nós estamos esperando, eles ouviram nossa fala, nosso clamor, nossa postura de afirmar que não temos condição de abrigar e manter todas essas pessoas”, acrescentou Correia.

Com a desistência do grupo que rumou para Rio Branco, a quantidade de pessoas na Ponte da Integração diminuiu, mas cerca de 60 imigrantes se mantêm no local. Nos abrigos de Assis Brasil, no entanto, o número de pessoas aumentou com a chegada de cerca de 50 venezuelanos que chegaram na última quinta-feira, pelo Peru, para entrar no Brasil.

É importante esclarecer que as autoridades peruanas não admitem a entrada dos imigrantes que estão em Assis Brasil, mas permitem a saída dos que lá estão para o país vizinho. A dupla situação tende a agravar a concentração de pessoas na cidade brasileira, que enfrenta colapso tanto no atendimento dos estrangeiros quanto na prestação dos serviços à própria população.

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ac24 Horas