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Fé e Clima: Professora da Ufac participa de Missão Inter-religiosa por Justiça Ambiental na Europa

Rio Branco, AC – A voz da Amazônia ecoou na Europa em uma inédita agenda de fé e clima. A pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular e professora da Universidade Federal do Acre, Andréa Alechandre, compôs a delegação brasileira que participou de uma série de eventos em Paris, França, e Castel Gandolfo, Itália, entre setembro e outubro, promovendo a justiça climática e o cuidado com o planeta.
Convidada pelo GreenFaith – um movimento global inter-religioso pela justiça climática, coordenado em nível global pelo Reverendo Fletcher Harper, dos Estados Unidos, Andréa Alechandre representou não apenas o Brasil, mas também a perspectiva evangélica no diálogo ambiental. Em Paris, ela esteve acompanhada por Andressa Dutra, uma jovem ativista ambiental da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e praticante de religião de matriz africana, a Umbanda, a Julia Rossi, coordenadora do GeenFaith Brasil. Já na Itália, um segundo momento, por Rayana Burgos, jovem ativista de Recife-PE também de religião de matriz africana, a Umbanda Jurerê, formando um poderoso trio que sublinhou a diversidade e a urgência da causa brasileira.
O GreenFaith, cuja coordenação no Brasil é liderada por Julia Rossi –, que em 2023 criou raízes no Brasil e em 2024 lançou a “Aliança Sagrada Pelo Clima”, da qual Andréa faz parte, foi o articulador dessa agenda. O movimento, originado nos Estados Unidos e presente em dez países, mobiliza pessoas de diferentes crenças para deter o avanço de projetos de combustíveis fósseis e construir um futuro mais sustentável.
Mobilização em Paris: A Força da Unidade na Marcha pelo Clima
De 24 a 29 de setembro, Paris foi palco de uma intensa programação. O ponto alto foi a marcha pelo “clima, justiça e liberdade”, que reuniu mais de 250 organizações. Pela primeira vez na história desses encontros, representantes de diversas religiões tiveram um papel central, com direito à fala e destaque na mídia local. “Participar desta marcha, vendo líderes de diferentes credos caminhando juntos pela mesma causa, foi como testemunhar um rio de fé e esperança se unindo para mover montanhas. É a prova de que a crise climática é um chamado que transcende qualquer fronteira, seja ela geográfica ou espiritual”, comentou a professora Alechandre.
Diálogo em Castel Gandolfo: Ética, Espiritualidade e o Futuro da COP30
A segunda etapa da jornada, de 1º a 3 de outubro, aconteceu em Castel Gandolfo, a residência de verão do Papa, na Itália. O local, conhecido por seus belos jardins e pela visão do Papa Francisco de transformá-lo em um centro de educação ambiental, abrigou dois eventos cruciais: a celebração dos 10 anos da Encíclica Laudato Si’ – o documento papal sobre o cuidado da casa comum – e o “Balanço Ético Global Multirreligioso” (GES), uma contribuição direta para a COP30.

No dia 1º de outubro de 2025, 35 líderes de diversas religiões e continentes, incluindo ministros, ativistas e defensores do clima, se reuniram no Borgo Laudato Si’. O objetivo: exigir que a liderança moral acompanhe a urgência científica da crise climática, antecipando as discussões da COP30.
Entre os presentes, destacaram-se nomes como Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, e Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda. Marina Silva enfatizou a necessidade de um componente ético para a eficácia da ação climática, uma ideia que ressoou profundamente com os participantes.
O Documento de Castel Gandolfo: Um Manifesto para a COP30
Durante os encontros na Itália, foi elaborado um documento robusto, que será levado à COP30. Este manifesto faz uma crítica contundente ao modelo econômico vigente, destacando uma crise ética e de valores que, segundo os líderes inter-religiosos, culmina em uma profunda crise espiritual e se manifesta em atitudes que degradam o meio ambiente. “É um grito de alerta. Entendemos que a degradação ambiental é um sintoma de uma crise mais profunda, uma crise de valores e uma crise espiritual, causada pelo nosso afastamento do Criador. O documento que construímos é como um mapa que aponta não só os perigos, mas também o caminho para uma reconciliação com Deus, conosco mesmo, com o próximo e com a criação”, explicou Andréa.
A jornada de Andréa Alechandre e suas colegas brasileiras na Europa demonstra a crescente importância do diálogo inter-religioso e da ação baseada na fé na luta global pela justiça climática. A união de diferentes credos, como muçulmanos, católicos, protestantes, budistas, judeus e Bahá’ís, representa uma poderosa força moral, essencial para inspirar mudanças e proteger a “nossa casa comum”.

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Assessoria