Milhares de pessoas saíram às ruas na Argentina nesta quarta-feira (24) para fazer a primeira greve geral contra o governo do presidente Javier Milei, apenas 45 dias após sua posse.
O país, que já estava abalado por uma inflação anual recorde de 211%, viu as drásticas medidas do novo presidente, líder do partido La Libertad Avanza,piorarem ainda mais o poder de compra da população.
O argentino Cesar Simon Cortez, técnico de audiovisual, falou diretamente da capital Buenos Aires sobre a manifestação. Ele disse que a greve reuniu tantas pessoas porque há muitos eleitores arrependidos, que se sentem enganados por uma “grande mentira eleitoral”.
“Milei disse uma coisa e fez outra. Ele prometeu combater a inflação e a evasão fiscal das grandes corporações, mas agora sobrecarrega as classes mais baixas com impostos e retenções salariais. Ele está destruindo a classe média”, afirmou César.
A greve geral foi oficialmente convocada pela maior central sindical da Argentina, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), de orientação peronista, com o apoio da Confederação dos Trabalhadores Argentinos (CTA), a segunda maior do país.
Além das organizações sindicais, a greve também é apoiada pelas Mães e Avós da Praça de Maio — grupo formado por mulheres que tiveram seus filhos assassinados ou desaparecidos durante a ditadura militar do país, entre 1976 e 1983.
“Essa manifestação é tão grande que reuniu muitas forças distintas da sociedade, que foram afetadas pelo DNU [Decreto Nacional de Urgência] de Milei. Há muita insatisfação porque o governo quer tirar o financiamento de vários setores e privatizar tudo”, afirmou César.
O DNU afetou profundamente diversos setores da sociedade. Composto por 366 artigos, o decreto introduziu rapidamente grandes mudanças na legislação trabalhista.
Entre elas, a exigência de uma cobertura mínima de 75% em serviços essenciais, a possibilidade de demissões por justa causa durante greves que, junto com a dolarização da economia, reduziu drasticamente o poder de compra dos trabalhadores.
Devido a esta queda drástica no poder de compra, o argentino viu em dezembro o consumo cair 13,7%, e a produção nas pequenas indústrias, 26,9%, segundo dados da Câmara Empresarial CAME.
Todo esse contexto gerou uma situação desconfortável para a classe média e baixa. Cesar destacou a importância da mobilização para demonstrar a grande insatisfação da população com as políticas do governo.
“Queremos mostrar que mais da metade da população não está de acordo com suas medidas. Além de parar um dia o país, e fazer as corporações sentirem no bolso. Queremos mostrar que a rua é da gente e que as políticas não estão sendo benéficas para o país”.