Entenda por que a situação de Manaus é mais grave do que a de outras capitais

O governo do Amazonas editou na quinta-feira (14) um decreto que institui, pelos próximos dez dias, uma restrição provisória da circulação de pessoas em todos os municípios do estado das 19h às 6h.

Com informações de Giovanna Bronze, da CNN, em São Paulo

Com os números de casos diários de Covid-19 batendo recorde e com os hospitais sem oxigênio para tratar os pacientes, a cidade de Manaus, capital do Amazonas, vive as consequências mais severas da pandemia do novo coronavírus.

Na quinta-feira (14), foram registrados 2.516 novos casos do novo coronavírus em Manaus e 1.300 no resto do estado do Amazonas – e a maioria desses casos, quando há necessidade de internação, acaba transferido para a capital.

O último recorde infectados foi registrado no final do mês de maio de 2020, com 2.763 casos diários, quando o estado viveu uma situação caótica a primeira onda da pandemia. Ao todo, o estado contabiliza 223.360 infectados pela doença, segundo boletim informado pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas.

Os dados de quinta apontam também 254 novas internações em Manaus, enquanto o estado do Amazonas chegou a marca de 258 pessoas internadas no total. Com esses dados, o Amazonas registrou o pior dia no número de hospitalizações e de casos de Covid-19 desde o início da pandemia.

Falta de Oxigênio

Pacientes internados para tratamento da Covid-19 no Amazonas não contam com o fornecimento de oxigênio, pois chegou ao fim a reserva dos cilindros no estado.

Por esse motivo, o governador do estado informou que realizará a transferência desses pacientes de Manaus para hospitais de Teresina (PI), São Luís (MA), Brasília (DF), João Pessoa (PB), Natal (RN) e Goiânia (GO).

O problema acontece depois de a empresa responsável pelo fornecimento de oxigênio aos hospitais públicos do Amazonas não conseguir suprir a demanda em razão da dificuldade na logística e do aumento do número de pacientes internados.

No pico da pandemia do novo coronavírus no Amazonas em 2020, o consumo médio diário de oxigênio chegou a 30 mil metros cúbicos. Durante esta nova fase de crescimento de casos no estado, em 2021, o consumo médio já passa de 70 mil metros cúbicos – a situação é caótica, já que a capacidade do produtor local é de fornecer apenas 28 mil metros cúbicos por dia.

Restrições de movimentação

Para conter o avanço da pandemia no estado, o governo do Amazonas editou na quinta-feira (14) um decreto que institui, pelos próximos dez dias, uma restrição provisória da circulação de pessoas em todos os municípios do estado das 19h às 6h.

O governador do estado, Wilson Lima (PSC), afirmou que essas são medidas duras, mas necessárias. ”Estamos em uma operação de guerra”, afirmou o governador ao anunciar a medida.

Lima também decretou a proibição do acesso às instalações das escolas públicas estaduais nos dias 17 e 24 de janeiro, datas previstas para a realização das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

O decreto está embasado em uma decisão da Justiça Federal do estado que suspendeu a realização das provas do Enem no Estado.

Outros recordes

Na capital, a situação crítica é exposta também pelo aumento de enterros. Apenas nos primeiros 14 dias de janeiro, foram registrados 1.672 – 84,75% mais do que os 905 registrados no mês inteiro em 2019.

Em relação aos enterros de pacientes que morreram pela Covid-19, Manaus registrou 695 em janeiro até a quinta-feira (14). O número é recorde mensal – ou seja, maior número já contabilizado em um mês – desde o início da pandemia, apesar de ainda estamos na metade de janeiro.

Em 2020, Manaus realizou o enterro de 1.285 vítimas confirmadas de Covid-19. Apenas nos 14 dias de janeiro de 2021, os enterros realizados superam a metade do contabilizado em um ano inteiro.

Ocupação de UTIs

Na quinta-feira (14) a ocupação dos leitos de UTI no estado do Amazonas para pacientes com Covid-19 era de 90,33%. Já a ocupação dos leitos clínicos era de 103,72%, ou seja, havia mais pacientes do que a capacidade de atendimento do sistema.

Além disso, a “sala vermelha” para pacientes com Covid-19, estrutura voltada à assistência temporária para estabilização de pacientes críticos/graves para posterior encaminhamento a outros pontos da rede de atenção à saúde, operava com 133,33% de sua capacidade.

De acordo com especialista em Medicina Tropical Silvio Fragoso, o problema está no grande número de pacientes das cidades do estado, que se infectaram e precisam ser tratados nos hospitais da capital.

“Uma das principais causas para a sobrecarga de Manaus ser maior em relação a outras capitais é a infraestrutura nos outros estados: as cidades menores contam com hospitais próprios. Aqui no Amazonas, só Manaus dispõe da estrutura necessária para atender os pacientes da Covid-19. Logo, os de outras regiões vêm se tratar aqui na cidade”, explicou Fragoso.

O médico prevê que a situação tende a piorar nos próximos dias. “Até o dia 20 de janeiro, seremos atingidos pelo reflexo das eleições e das festas do final de ano. E nesse contexto teremos, aumento no número de infectados”, ressaltou.

Vacinação é uma saída

Para Fragoso, a vacinação emergencial é a saída para o colapso no sistema de saúde em Manaus. “Uma vez que a vacinação comece, reduziremos substancialmente o número de pessoas infectadas. Dessa forma, poderemos concentrar os esforços para ajudar os pacientes mais graves”, explicou o diretor.

Enquanto a imunização não começa, o médico é categórico ao reforçar que as regras básicas, desenhadas para evitar a proliferação do contágio pelo vírus, devem ser seguidas.

“Precisamos continuar evitando aglomerações, usando a máscara e o álcool em gel e se cuidando da melhor forma”, enfatizou.

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Publicado por
Marcus José