Enfermeiras denunciam casos de assédio sexual e moral praticados por gerente e pedem Justiça no Acre

Grupo fez protesto nesta quarta-feira (9) em frente ao Conselho Regional de Enfermagem do Acre — Foto: Lidson Almeida/Rede Amazônica Acre

Por Iryá Rodrigues

Um grupo de enfermeiras se reuniu em um protesto em frente ao Conselho Regional de Enfermagem do Acre (Coren-AC), nesta quarta-feira (9), para cobrar um posicionamento mais duro após uma série de denúncias de assédio moral e sexual contra um gerente de uma prestadora de planos de saúde, que também é enfermeiro.

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Representantes dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde no Estado do Acre (Sintesac) e dos Profissionais e Auxiliares de Enfermagem e Enfermeiros do Acre (Spate) também estiveram no ato pedindo por Justiça.

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O advogado das vítimas, Marcelo Neri, contou que até o momento cinco enfermeiras denunciaram o homem pela prática de assédio sexual e moral. No entanto, ele afirmou que existem outros casos, porém, as mulheres preferiram não denunciar por medo de serem prejudicadas de alguma forma.

“São cinco casos, mas é bom ressaltar que existe outras vítimas e, por questões diversas, questões familiares, medo, receio de serem prejudicadas em seus empregos, elas preferiram não denunciar. Inclusive tiveram receio até de servir como testemunha”, disse o advogado.

Neri informou ainda que existe um processo em fase final de julgamento no Coren-AC, mas que, seja qual for o resultado, ele deve recorrer da decisão no Conselho Federal de Enfermagem pedindo pela cassação do enfermeiro denunciado.

“Não pode uma pessoa acusada das práticas que ele está sendo acusado, caso venha a ser considerado culpado, receber somente uma censura”, pontuou.

Relato de uma das vítimas

Sem se identificar, uma das vítimas contou que os casos de assédio têm ocorrido desde 2017 e que em alguns casos, as enfermeiras foram demitidas e outras remanejadas de seus postos de trabalho.

“Nosso socorro foi quando já estava ao extremo, pedimos ao Conselho de Enfermagem e fomos à delegacia dar parte. Somos profissionais, não podemos sofrer tanta humilhação por um gestor da nossa categoria. Tivemos colegas demitidas, outras foram remanejadas para outros setores, outra com todo esse sofrimento e dor chegou a perder filho. Vocês não têm noção, a gente fica em tratamento. Hoje, eu não consigo ter mais alegria de trabalhar como tinha antes”, contou.

Emocionada, ela disse que o gerente de enfermagem do local onde trabalha já chegou a pegar nas pernas e abraçar por trás as enfermeiras. Além disso, o homem falava palavras de baixo calão e agia com deboche.

“Os detalhes foram muito dolorosos. Um dos exemplos é ‘se você precisar de um homem estou aqui’. Mas estamos aqui, fortes, com fé, e pedindo apoio do nosso conselho e da sociedade, não podemos calar com uma situação tão grave, que fere não só nossa parte física, mas também mental. É lamentável, doloroso, mas a gente não pode deixar isso impune. Ele não pode roubar nossa dignidade de trabalho, de vida”, afirmou.

A enfermeira contou ainda que os casos de assédio eram sempre praticados em locais onde não tinham câmeras e as vítimas também não podiam usar celulares e, por isso, não conseguiam filmar.

Julgamentos no Coren-AC

O presidente do Coren-AC, Márcio Raleigue, afirmou que o conselho repudia qualquer ato de assédio moral ou sexual praticado contra profissionais de enfermagem e disse que todas as denúncias que chegaram foram devidamente recebidas.

“Em relação aos processos, a gente recebeu, eles foram admitidos, já foi feita a fase de instrução, e no dia de hoje [quarta, 9] vamos ter o julgamento dos processos, que correm em sigilo, para ambas as partes não serem prejudicadas. Os processos vão ser julgados hoje, por uma plenária de sete conselheiros”, disse o presidente.

As penalidades impostas pelo código de ética, segundo o presidente do Coren, são advertência verbal, multa, suspensão ou censura. Ainda de acordo com ele, a cassação só pode feita pelo Conselho Federal de Enfermagem.

A presidente do Sindicato dos Profissionais e Auxiliares de Enfermagem e Enfermeiros do Acre, Rosa Nogueira, informou que inclusive a diretora do sindicato sofreu com os assédios por parte do enfermeiro denunciado.

“Acompanhei todo drama vivido pela nossa diretora e continua vivendo. Ela nos falou que devido ela denunciar, foi perseguida, foi mudada de setor. Estamos aqui e vamos lutar para que essa pessoa que cometeu esses atos seja punida”, disse.

Rosa afirmou ainda que o sindicato repudia a decisão do Coren após o resultado de dois dos processos contra o enfermeiro.

“Em um, ele foi condenado simplesmente a censura verbal, isso é inadmissível. Se foi condenado, teria que ter sido uma pena maior. E no outro [processo], os mesmos julgadores que deram a censura, pediram agora pelo arquivamento. Nós não vamos aceitar isso, porque o que esperamos do nosso conselho é lutar pelos profissionais.”

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Publicado por
G1 Acre

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