Brasil
Empregado se diz perseguido por se opor à privatização da Eletrobras
Ex-conselheiro da Eletronorte, ele enfrenta processo de demissão
O engenheiro eletricista Ikaro Chaves, ex-dirigente sindical e ex-conselheiro eleito do Conselho de Administração (Consad) da Eletronorte, uma subsidiária da Eletrobras, responde a um processo de demissão por justa causa por seus posicionamentos críticos à privatização da companhia, ocorrida em 2022, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na última sexta-feira (14), de acordo com o Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (Stiu-DF), Chaves foi surpreendido com a abertura do procedimento, que concedeu cinco dias úteis de prazo para apresentação da defesa, portanto na próxima sexta-feira (21).
“É inacreditável a que ponto a Eletrobras chegou. Demitem profissionais altamente qualificados, pais e mães de famílias, com ótimos serviços prestados às empresas do Grupo Eletrobras, ameaçam dirigentes sindicais do estado do Rio de Janeiro com demissões, por fazerem ato público, pela reestatização na sede da Eletrobras, coagiram covardemente trabalhadores na última live coordenada pelo VP [vice-presidente] de Pessoas, para aumentar a adesão ao PDV [Plano de Demissão Voluntária] ‘compulsório’, e para completar, abre processo de demissão, por justa causa, contra um profissional altamente qualificado e que cumpre integralmente com suas obrigações para com a empresa, unicamente por lutar pela reestatização da Eletrobras”, diz a nota pública do Stiu-DF que denuncia a perseguição.
As alegações do Grupo Eletrobras incluem supostas violações ao código de ética da companhia, “ao atribuir imagem negativa à companhia”, por entrevistas na imprensa e participações de Chaves em audiências públicas. Uma dessas seria a participação do empregado em uma audiência pública na Câmara dos Deputados, no dia 17 de maio deste ano, na qual ele teria feito acusações ao presidente da empresa sobre as informações financeiras da companhia, além de uma suposta relação da redução de empregados com a segurança operacional do sistema elétrico.
O engenheiro entrou no Grupo Eletrobras em 2007. Ele também foi dirigente sindical por cerca de 13 anos e ocupou, por duas gestões, uma cadeira no Consad da Eletronorte, escolhido em eleições diretas pelos demais empregados. À Agência Brasil, Chaves diz que a empresa intensificou a perseguição contra lideranças de trabalhadores que seguem mobilizadas para tentar reverter o processo de privatização e denunciar o que chama de desmonte da companhia.
“Esse processo que nós estamos vivendo agora, desde a privatização, é de coação e perseguição generalizada, para forçar que os trabalhadores façam adesão a um Plano de Demissão Voluntária (PDV)”, afirma. “Além do processo natural de demissões que a companhia vem fazendo, eles [gestores] querem acabar com a cultura existente. No nosso caso, há também um componente de vingança. Os mesmos funcionários públicos dirigentes que fizeram o processo de privatização, continuam na empresa e consideram que os trabalhadores foram um dos principais obstáculos contra a privatização. Você não pode demitir as pessoas por opinião”, acrescenta.
Segundo Ikaro Chaves, a meta do Grupo Eletrobras é demitir cerca de 1,5 mil empregados, o que representa aproximadamente 20% dos cerca de 8 mil. O número de empregados da companhia chegou a 26 mil no passado recente, antes da empresa sofrer enxugamento para ser privatizada. Ele também acusa dirigentes da companhia de terem aumentado os próprios salários e de colocar o sistema operacional em risco, com a redução das equipes. “Somente este ano, ocorreram duas mortes de empregados da companhia em serviço”, informa.
Apoio
Na última segunda-feira (17), lideranças sindicais e empregados da Eletronorte organizaram um ato de desagravo a Ikaro Chaves, na sede da empresa, em Brasília. “As acusações da empresa contra o engenheiro Ikaro Chaves são vazias e sem consistência e provaremos nas instâncias administrativa, jurídica e política, que é, na verdade, uma perseguição política contra uma liderança comprometida com a reestatização da Eletrobras. Vivemos em uma democracia onde a liberdade de expressão e de opinião devem ser preservadas. A tentativa da Eletrobras de cercear a liberdade das pessoas em se expressarem é uma das características dos tempos sombrios da ditadura, que o povo brasileiro não aceita mais”, acusa o Stiu-DF, em nota pública.
A reportagem entrou em contato com o Grupo Eletrobras para pedir um posicionamento sobre o processo de demissão por justa causa de Ikaro Chaves, mas, até a publicação da matéria, não houve retorno. O espaço está aberto para manifestação.
Revisão do controle
O governo federal, que detêm 43% das ações do Grupo Eletrobras, mesmo após a privatização, tenta rever algumas regras que reduziram drasticamente o poder de voto da União nos rumos da companhia. Em maio, a Advocacia-Geral da União (AGU) entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a constitucionalidade de alguns dispositivos da Lei 14.182/2021, como o trecho que trata da redução da participação da União nas votações do conselho da empresa. A lei proibiu que acionista, ou grupo de acionistas, exerça poder de voto maior que 10% da quantidade de ações.
O documento é assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo advogado-geral da União, Jorge Messias. Na petição, eles ressaltam que o objetivo da não é reestatizar a Eletrobras, mas resguardar o interesse público e os direitos de propriedade da União. A empresa é considerada muito estratégica para a segurança energética do país, pois detém um terço da capacidade geradora de energia elétrica instalada no país. A companhia também tem quase a metade do total de linhas de transmissão.
Matéria com alteração, às 16h, no primeiro parágrafo: a privatização foi em 2022 e não 2021, como informado inicialmente
Edição: Denise Griesinger
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Brasil
Amapá tem segunda maior taxa de homicídios do país em 2023, aponta Atlas da Violência
Com 516 mortes registradas, estado ocupa posição crítica no ranking nacional; Norte e Nordeste concentram os maiores índices de assassinatos
O estado do Amapá registrou, em 2023, a segunda maior taxa de homicídios do Brasil, com 39,7 mortes por 100 mil habitantes. Os dados são do Atlas da Violência, divulgado nesta segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Ao todo, foram contabilizados 516 homicídios no estado ao longo do ano passado. O número reforça o alerta para a crescente onda de violência na região Norte, que, junto com o Nordeste, concentra os índices mais elevados de assassinatos no país.
A Bahia lidera o ranking nacional, com uma taxa de 43,7 homicídios por 100 mil habitantes, seguida por Amapá, Pernambuco (37,3), Amazonas (36,0) e Ceará (34,8).
Considerado uma das principais referências na análise da criminalidade no Brasil, o Atlas da Violência é utilizado como instrumento para formulação de políticas públicas de segurança e combate à violência.
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Brasil
Justiça torna réus ex-secretário de Segurança e ex-comandante da PM por massacre no Rio Abacaxis
Onze policiais, incluindo altos oficiais do Amazonas, vão responder por homicídio qualificado, tortura e outros crimes ligados à operação que matou oito pessoas em 2020

Ex-secretário da SSP-AM, coronel Louismar Bonates, o ex-comandante-geral da PMAM, coronel Airton Norte — Foto: Reprodução
A Justiça Federal aceitou as denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF) e tornou réus o ex-secretário de Segurança Pública do Amazonas, coronel Louismar Bonates, o ex-comandante-geral da Polícia Militar, coronel Airton Norte, e outros nove policiais militares. Eles são acusados de participação no chamado “Massacre do Rio Abacaxis”, ocorrido em agosto de 2020.
A operação policial, realizada nos municípios de Borba e Nova Olinda do Norte, resultou em oito mortes, incluindo dois indígenas Munduruku e membros de uma família ribeirinha. Além das execuções, há denúncias de tortura, invasões de domicílios e abusos cometidos durante a chamada operação “Lei e Ordem”, conduzida por agentes da Polícia Militar.
De acordo com o MPF, os crimes teriam sido motivados por vingança após a morte de dois policiais em uma emboscada, dias antes da ação. As investigações apontam que as vítimas foram executadas sem chance de defesa e que os corpos foram ocultados ou destruídos.
Os 11 réus responderão por homicídio qualificado, ocultação de cadáver, sequestro e cárcere privado. Segundo o Ministério Público, as ações afetaram diretamente comunidades indígenas e ribeirinhas, agravando a vulnerabilidade dessas populações em plena pandemia, com dificuldades no acesso à alimentação e à saúde.
O MPF requer a condenação dos acusados, a perda dos cargos públicos e o pagamento de R$ 500 mil por família de vítima, a título de indenização por danos morais. O caso é considerado um dos mais graves episódios de violência policial na região amazônica nos últimos anos.
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Brasil
PF investiga fraudes em contas vinculadas à plataforma Gov.br
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta terça-feira (13) a Operação Face Off para desarticular uma associação criminosa especializada em fraudar contas digitais vinculadas à plataforma Gov.br.
Em nota, a corporação informou que o grupo utilizava técnicas avançadas de alteração facial para burlar sistemas de autenticação biométrica.
“As investigações revelaram que os criminosos simulavam traços faciais de terceiros para obter acesso indevido às contas digitais das vítimas, assumindo o controle total dos perfis e, consequentemente, de serviços públicos e informações pessoais sensíveis.”
Estão sendo cumpridos cinco mandados de prisão temporária e 16 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Federal de Brasília, nos seguintes estados: São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Paraíba, Mato Grosso, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Tocantins.
De acordo com a PF, os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático qualificada e associação criminosa.
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