Hoje, Elimaria é casada há 13 anos com um novo companheiro, com quem construiu uma família e encontrou apoio para seguir adiante. Seu maior presente nos dias atual é o filho caçula. Foto: pessoal
Juruá 24horas
Aos 40 anos, Francisca Elimaria Oliveira dos Santos carrega em seu corpo marcas que jamais desaparecerão. São cicatrizes que contam uma história de dor, violência e perda. Mas, acima de tudo, são marcas que testemunham sua resiliência, sua luta e sua capacidade de reconstruir uma vida destruída pela violência doméstica.
Há 15 anos, Elimaria enfrentou um dos momentos mais traumáticos de sua vida. O marido, tomado pelo ciúme e pela obsessão, tentou matá-la dentro do próprio salão de beleza. Naquela noite, ela foi atacada brutalmente. Cortes profundos em suas mãos, braços, pernas e pescoço quase a tiraram deste mundo. Entre o desespero e a luta pela vida, conseguiu chegar até a casa do irmão, onde desmaiou nos braços dele.
Depois de passar por duas cirurgias e se recuperar fisicamente, veio o golpe final: o homem que jurou protegê-la destruiu tudo o que tinham. Incendiou sua casa, quebrou os móveis, destruiu o salão. Elimaria perdeu tudo, exceto uma coisa: a vontade de seguir em frente.
Se livrar de um relacionamento abusivo não é simples. Apesar da medida protetiva, a dor emocional e a confusão a levaram a quebrar a lei e procurar o agressor. Por desconhecimento da legislação, foi presa e passou três meses e cinco dias no presídio de Cruzeiro do Sul.
A humilhação, o estigma de “ex-presidiária” e a perda de sua casa – vendida para pagar a liberdade – foram mais um choque de realidade. Mas foi ali, no fundo do poço, que ela encontrou forças para dar a volta por cima.
Se livrar de um relacionamento abusivo não é simples. Apesar da medida protetiva, a dor emocional e a confusão a levaram a quebrar a lei e procurar o agressor. Foto: pessoal
“Meu filho olhou para mim e disse: ‘Mãe, ainda bem que meu pai não te matou’. Aquelas palavras mudaram tudo. Era hora de lutar por mim e por eles”, relembra.
Sem emprego, sem casa e sem perspectivas, Elimaria decidiu fazer o que nunca tinha tido oportunidade antes: estudar. Concluiu o ensino fundamental, depois o ensino médio. Não parou por aí. Fez cursos, conseguiu um emprego na prefeitura, e percebeu que queria mais.
“A dor me fez perceber que eu poderia ajudar outras pessoas. Por isso, me matriculei no curso técnico de enfermagem. Em agosto, me formo e já penso na próxima especialização.”
Hoje, Elimaria é casada há 13 anos com um novo companheiro, com quem construiu uma família e encontrou apoio para seguir adiante. Seu maior presente nos dias atual é o filho caçula, portador da Síndrome de Down, que trouxe ainda mais sentido à sua vida.
Olhar no espelho já não é mais doloroso. As cicatrizes ainda estão ali, mas agora são símbolos de uma batalha vencida.
“Eu escolhi ser feliz. Escolhi transformar minha dor em motivação. Sei que há muitas mulheres presas ao medo, ao silêncio. Mas quero que saibam: é possível sair dessa. Estudem, trabalhem, busquem ajuda. A vida recomeça quando a gente decide se libertar.”
No Dia Internacional da Mulher, a história de Elimaria serve como um farol para todas aquelas que ainda sofrem. Que sua coragem inspire outras a darem o primeiro passo rumo à liberdade.
Há 15 anos, Elimaria enfrentou um dos momentos mais traumáticos de sua vida. O marido, tomado pelo ciúme e pela obsessão, tentou matá-la dentro do próprio salão de beleza