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Economia na conta de luz pode chegar a 30% com fim do desperdício de energia
Mais de dez anos após o apagão, brasileiro desperdiça, em média, 15% do que consome de energia por mês, diz associação
Aneel vai sugerir ao governo reajuste mensal da tarifa residencial
Gabriela Valente, Danilo Fariello e Cristiane Bonfanti – O Globo
BRASÍLIA E RIO — O brasileiro anda meio desligado de alguns hábitos de consumo adotados após o racionamento de energia elétrica de 2001/2002, quando aprendeu a não desperdiçar e controlar rigorosamente a conta de luz. Mais de dez anos depois do apagão, o consumidor residencial desperdiça, em média, 15% do que consome de energia por mês, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco). Se voltasse a poupar, poderia ampliar substancialmente a queda de 18% anunciada pela presidente Dilma Rousseff, que passa a valer este mês.
Com o alívio dado pelo governo, uma conta de luz de R$ 100, por exemplo, cairá para R$ 82. Se o consumidor fizesse um esforço extra e, sem desperdício, cortasse em 15% o consumo, economizaria mais R$ 12,30. No fim das contas, a fatura cairia para R$ 69,70, um desconto de 30,3%. O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, disse que, em locais onde a energia é usada de forma mais eficiente, como na Europa, o desperdício é de cerca de 5%:
— Sempre tem algum desperdício. Alguém que esquece de fechar a geladeira ou sai de casa e deixa a luz acesa ou a televisão ligada. Pode parecer bobagem, mas, se somarmos, sempre há um consumo desnecessário.
Aneel quer reajuste mensal da conta
Para Pires, o governo errou ao anunciar a redução da conta de luz sem, antes, fazer um programa de uso racional de energia. Incentivada pela tarifa menor, disse ele, a população pode consumir mais e, ao longo do tempo, afetar ainda mais os custos energéticos do país, tanto no que diz respeito a impostos quanto a investimentos para as empresas atenderem a nova demanda.
— A medida de baixar tarifa é populista e acaba dando um sinal equivocado para a população. Mostra, aparentemente, que a energia fica mais barata, mas, na realidade, esse é um insumo que tende a ficar cada vez mais caro.
O desperdício é ainda mais relevante, se considerado o avanço tecnológico dos equipamentos. Aparelhos de consumo maior foram substituídos por modelos mais econômicos. Desde 2001, o governo vem tomando medidas para que os equipamentos elétricos se tornem mais eficientes e consumam menos energia. O selo do Procel, por exemplo, tornou-se condição necessária para a venda de produtos como geladeiras e ar-condicionado. Além disso, foram adotadas políticas para troca de lâmpadas incandescentes, que devem desaparecer do país em 2017.
— A partir do selo Procel, o consumidor, ao comprar um produto eletrônico, leva em conta seu consumo — ressalta o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura.
A advogada Ieda de Souza lembra de suas ações na época do racionamento no início da década passada. Em 2003, ela e o filho consumiam 180 kilowatt-hora (kwh) por mês, o equivalente a R$ 47. Na última conta, seu gasto foi de 451 kwh ou R$ 136. Ela conta que, há dez anos, trocou lâmpadas para economizar energia e sempre apagava as luzes ao deixar os quartos. Já, neste verão, Ieda não passou um dia sequer sem ligar os dois aparelhos de ar condicionado comprados nos últimos anos. Esses aparelhos, somados aos três computadores, mais um videogame e uma guitarra elétrica, resultaram em consumo três vezes maior nos últimos anos:
— Naquela época, a gente tinha a preocupação em economizar energia. Acho que a gente se desligou disso.
Assim como Ieda, nos últimos dez anos a nova classe média teve acesso a uma série de bens de consumo que antes pareciam distantes. Somente o programa Luz Para Todos ligou mais de 2,5 milhões de domicílios entre 2004 e 2010. A chefe de cozinha Andrea Navarro também viu sua conta disparar nos últimos anos, depois de comprar novos eletrodomésticos: um freezer, dois ventiladores, uma adega climatizada e outra TV. Em janeiro de 2008, ela consumia 244 kWh por mês e pagava uma conta de R$ 85. Hoje, desembolsa R$ 176 por pouco mais de 400 kWh gastos, mas está adotando algumas providências para reduzir o consumo.
Andrea tornou-se autônoma e teve uma redução de sua renda, o que motivou as medidas que adiara por mais de uma década: trocou os chuveiros por modelos mais econômicos, encurtou os banhos, substituiu lâmpadas e comprou um filtro de água elétrico para não abrir a geladeira várias vezes ao dia:
— O que sobra no mês dá para ir ao cinema — disse a empresária.
Preocupada com o aumento do consumo e com o desperdício, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai sugerir ao Ministério de Minas e Energia a adoção de nova regra que permita a variação mensal da tarifa residencial de energia, de acordo com o custo de geração. Hoje, a variação no custo efetivo da geração da energia — que nas últimas semanas disparou com a escassez de água nos reservatórios — só é percebida pelo consumidor residencial no reajuste anual.
— Com o repasse mensal, o consumidor residencial terá sinais mais claros do custo efetivo da energia e poderá economizar mais, se perceber que o preço subiu — explica Julião Coelho, diretor da Aneel.
Alerta ao cliente nos próximos meses
A advogada Flávia Lefrève, da área de Telecomunicações e Energia da Proteste, entidade de defesa ao consumidor, diz que o cliente perde com esse repasse mensal. Ela lembra que as distribuidoras já têm duas formas de reajuste previstas em lei: a anual e as revisões periódicas de quatro em quatro anos.
— Isso é ruim para o consumidor, já que as empresas têm uma série de proteções para garantir o repasse de custos. Não é necessário mais um.
Apesar de concordar com repasse mensal do uso das térmicas, por entender que esse tipo de geração será cada vez mais usada já que as hidrelétricas em construção não têm mais reservatório, o economista Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, lembra a lei do Plano Real que estabelece reajustes anuais.
— Ela vale para todos os preços públicos — diz Castro.
Coelho, da Aneel, informou que já existe parecer jurídico da procuradoria da Aneel favorável à mudança, mesmo com a vedação de alterações mensais de tarifas pela lei do Plano Real. Segundo ele, lei específica do setor prevê essa possibilidade, que, portanto, não teria de ser submetida ao Congresso.
Para que os consumidores saibam como anda o custo real da energia, Coelho pretende manter a previsão de apresentar aos consumidores bandeiras verde, amarela ou vermelha, sobre o nível de custo de geração. Pela previsão atual, essas bandeiras começarão a surgir nas contas nos próximos meses, mas uma cobrança diferenciada só começaria em 2014. O secretário Altino Ventura lembra que, durante o racionamento, o consumo de energia caiu 20% no país e, passadas a crise e as restrições, o consumo recuperou apenas 5%, eliminando os 15% que se referiam a ineficiências do sistema:
— A crise mostrou que é possível reduzir o consumo sem desconfortos para as famílias.
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Advogado de Bolsonaro critica intimação na UTI: “Qual a real urgência?”
A intimação dá ao ex-presidente cinco dias para apresentar defesa após virar réu no STF, acusado pela PGR de envolvimento em um suposto plano de golpe de Estado em 2022

Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) internado • Reprodução/Instagram
O advogado Paulo Cunha Bueno, que trabalha na defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), manifestou insatisfação com a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) de intimar Bolsonaro na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital DF Star, em Brasília.
Na rede social X (antigo Twitter), Bueno contou que o ex-presidente “foi surpreendido com a inédita diligência de Oficiala de Justiça, nas dependências da área mais restrita e esterilizada” do hospital.
“Digo ‘inédita’, porque o Código de Processo Penal é explícito em determinar a impossibilidade de realização de citação de doente em estado grave, condição que, é notório, lamentavelmente hoje acomete o presidente”, escreveu.
Fonte: CNN
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Relator rejeita recurso do deputado Glauber Braga contra cassação do mandato
O processo contra Glauber foi aberto no Conselho de Ética em 2024, após o deputado fluminense colocar o influenciador Gabriel Costenaro para fora da Câmara aos chutes

Deputado Glauber Braga no dia 16 de abril quando ainda fazia greve de fome: recursos contra cassação foi rejeitado. Foto: internet
O deputado federal Alex Manente (Cidadania-SP) rejeitou o recurso de Glauber Braga (PSOL-RJ) apresentado à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados contra a decisão do Conselho de Ética, que votou pela cassação do parlamentar. Manente é o relator do caso no colegiado.
Manente negou o provimento a todos os argumentos sobre o mérito da decisão. Para ele, isso foi avaliado no Conselho de Ética e sua análise foi sobre os vícios de procedimento.
O caso está em análise na CCJ nesta quinta-feira (24) e deverá ser votado na próxima semana, pois há a possibilidade de pedido de vista (mais tempo para análise).
No recurso, Glauber alega que adotou uma reação “proporcional” ao agredir um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) que havia xingado sua mãe doente, e que tem sido perseguido pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).
Manente refutou o argumento dizendo que essa análise não cabe à CCJ. “O que se tem, na verdade, é a tentativa de reabrir discussão sobre a valoração dos elementos probatórios e a motivação da pena, o que escapa aos limites da competência recursal desta Comissão”, escreveu.
O processo contra Glauber foi aberto no Conselho de Ética em 2024, após o deputado fluminense colocar o influenciador Gabriel Costenaro para fora da Câmara aos chutes.
Imediatamente após a decisão do Conselho de Ética, Glauber resolveu iniciar uma greve de fome e passou a dormir no plenário 5 da Câmara, mesmo lugar que o colegiado votara por sua cassação.
Ele assim prosseguiu por nove dias, e suspendeu a greve de fome na quinta-feira anterior (17), após um acordo com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que prometeu que a votação do parlamentar em plenário ocorreria apenas no segundo semestre deste ano.
A votação na CCJ é o penúltimo passo do caminho até a perda do cargo de Glauber. A última fase ocorrerá no plenário, onde todos os parlamentares poderão votar.
Há ainda outra decisão no Conselho de Ética pendente de análise no plenário. Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), preso preventivamente em março de 2024 sob a acusação de ser o mandante do assassinato da ex-vereadora do Rio Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, teve o mandato cassado em agosto de 2024 e ainda aguarda julgamento.
Enquanto isso, Brazão mantém o mandato parlamentar, ainda que preso. Como mostrou o Estadão, o parlamentar custou mais de R$ 1,8 milhão dos cofres da Câmara desde março do ano passado.
Na quarta-feira (23), Glauber foi tema de conversas entre líderes da oposição. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ) foi ao ouvido do senador Ciro Nogueira (PP-PI) perguntar se o deputado seria cassado. Ciro, um dos principais aliados de Motta e Lira, assentiu com a cabeça.
Indagado posteriormente pela reportagem se acredita que Glauber perderá o mandato, Ciro deu uma resposta breve. “Se depender de mim, sim”, afirmou.

O caso está em análise na CCJ nesta quinta-feira (24) e deverá ser votado na próxima semana, pois há a possibilidade de pedido de vista, mais tempo para análise. Foto: internet
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Onze associações detêm 80% dos descontos nas aposentadorias do INSS
Os investigadores suspeitam que entidades de aposentados fraudavam assinaturas de pensionistas e os tornava associados delas, sem que eles soubessem disso

Ministro Carlos Lupi afirmou que aposentados cancelaram descontos para associações da categoria. Foto: Joédson Alves/ABr
O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, disse nesta quarta-feira (23) que as 11 entidades que estão no foco da investigação sobre desvio de dinheiro de beneficiários do INSS concentram 80% de todo o volume desse tipo de desconto dentre todos os aposentados.
A investigação, comandada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União, apura desvio bilionário de dinheiro de aposentados. Os investigadores suspeitam que entidades de aposentados fraudavam assinaturas de pensionistas e os tornava associados delas, sem que eles soubessem disso. O pagamento da aposentadoria, então, era feito com alguns descontos. Esse dinheiro, sem o conhecimento dos aposentados, ia para essas entidades.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, ao lado dos ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da Controladoria-Geral da União, Vinicius Carvalho, e do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, o ministro Carlos Lupi disse não saber quantas ações existem no Brasil para reivindicar esses recursos.
“Não sei a quantidade de ações, porque isso está espalhado no Brasil todo. São 13 (entidades) investigadas, 11 denunciadas. Só essas 11 têm 80% do volume total de descontos dos aposentados”, declarou.
O ministro disse, porém, que, “com a plataforma digital do INSS, mais de 180 mil aposentados cancelaram os descontos pelo sistema”.
O ministro disse que não deve haver tempo hábil para que os descontos nas aposentadorias sejam cancelados já na próxima folha de pagamentos.
“Isso depende de uma avaliação com a Dataprev sobre o prazo de rodar a folha. Acho que não terá tempo de tirar o desconto para este mês. Tenho de conversar com a Dataprev para saber se será possível evitar para este mês”, declarou.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, frisou, porém, que, mesmo que haja o desconto na folha, o dinheiro não será direcionado às entidades investigadas mais.
Questionado sobre a participação de integrantes do Conselho da Previdência Social envolvidos na investigação e em outras atividades ilícitas, Lupi disse que ele apenas faz a nomeação formal a partir da escolha feita por sindicatos e associações.
“Existe uma lei que configura como se faz a indicação ao conselho. Quem são as entidades e quem indica. Compete ao ministro apenas fazer a nomeação formal dos indicados. Não tenho competência de escolher se vai ser A, B ou C. A lei diz que essas instituições são responsáveis. Eles indicam e eu assino, só isso. Eu não tenho esse poder. A lei foi feita para ser cumprida. Se a gente não gosta dela, a gente forma maioria no Congresso e muda a lei. Mas se é assim, tenho que cumprir”, declarou.
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