Por Aline Nascimento
A família do idoso Raimundo Mendes de Oliveira, de 78 anos, descobriu que o corpo dele foi trocado no Pronto-Socorro de Rio Branco e enterrado no lugar de outra pessoa. Oliveira morreu na madrugada de terça-feira (12) vítima da Covid-19. A família do idoso disse que vai fazer um Boletim de Ocorrência na delegacia sobre o ocorrido.
Em menos de 24 horas sete pessoas morreram vítimas da doença no Acre, segundo Secretaria de estado de Saúde (Sesacre). O Acre registrou mais 130 novos casos de coronavírus nesta terça, totalizando 1.590 casos.
Ele estava internado no PS desde o último dia 3. O idoso começou a apresentar sintomas da doença após receber alta do Hospital o Idoso, quando foi internado no início do mês de abril após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Os parentes esperavam o corpo para o enterro, no início da tarde de terça no Cemitério Jardim da Saudade, quando foi avisado pela funerária de que o corpo do idoso não estava no hospital.
“Não achamos, enterraram ele errado, de manhã. Foi enterrado no lugar de um outro paciente que morreu também de Covid-19. Enterraram meu pai errado e deixaram outro corpo aqui”, lamentou Jean Roberto, um dos filhos do idoso.
A Sesacre informou que as equipes desceram para a pedra os corpos de dois pacientes vítimas de Covid-19, entre eles o idoso. Uma equipe da Morada da Paz, que estava responsável pelo enterro do outro paciente, pegou o corpo de Oliveira por engano e levou para ser enterrado.
“O erro não foi nosso, foi da funerária. Os corpos estão identificados”, alegou a gerente de Assistência do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco, Mônica Nascimento.
Funerária que perdeu corpo de idoso morto por coronavírus diz que pegaram o defunto errado
O neto G.M conta que a família deu entrada em toda a papelada na funerária São Francisco. O enterro foi marcado para às 13 horas desta terça-feira, 12, no cemitério Jardim da Saudade. Acontece que o corpo não apareceu. Quando a família, desesperada, entrou em contato com a funerária, simplesmente foram informados de que não sabem dizer onde está o corpo.
“O povo da funerária pediu pra gente entrar antes de uma hora da tarde no cemitério. Ficamos esperando e nada do corpo do meu avô. É muito complicado. Como é que acontece uma coisa dessas?”, afirma o neto.
A reportagem entrou em contato com a funerária São Francisco. Bastante nervosa, uma pessoa identificada como Sônia confirmou a denúncia da família. “Agora no primeiro momento estamos verificando o que aconteceu e não temos nada à dizer. Enquanto a gente não resolver, não podemos dizer nada. O corpo foi desaparecido, mas ninguém sabe onde tá, estamos procurando”, disse.
A funerária Morada da Paz, em nota, informou que está verificando o que ocorreu para resultar na troca dos corpos no necrotério do PS. “Prezando pela total transparência e comprometimento, iremos suspender os funcionários envolvidos para entendermos o que houve”.
A coordenação da funerária disse ainda que o corpo do idoso Raimundo Oliveira permaneceu no mesmo jazigo do Cemitério Morada da paz, com autorização da família, e que foi trocado apenas o nome e o registro.
A reportagem não conseguiu contato com a família que também teve o corpo trocado, mas foi informado também pela funerária que os familiares foram avisados da troca e que o corpo já foi enterrado também no Cemitério Morada da paz.
Consultada por telefone, Sônia, a proprietária da Funerária São Francisco, confirmou que uma outra funerária pegou o corpo do idoso e realizou o enterro em outra família. Sônia não quis comentar o nome da outra funerária e nem adiantou se vai fazer algum tipo de denúncia contra a empresa que cometeu o erro. Notícia atualizada às 18h
No boletim dessa segunda (11), três mortes tinham sido registradas pela doença. Em menos de 24 horas foram mais sete óbitos
Raimundo Oliveira morava com um dos filhos em Rio Branco. Atuou no time do Independência como goleiro entre as décadas 60 e 70. Mas, antes de ser jogador de futebol, Oliveira trabalhava com sapateiro. “Ele parou de jogar e foi cuidar da família”, contou o filho Humberto Moura, muito emocionado.
O filho conta que o pai era uma pessoa alegre e tranquila e estava sempre de bem com a vida. “Era uma pessoa tranquila e de ótima de convivência. Morava com minha irmã, era torcedor do Vasco”, relembrou.
Ainda segundo o filho, Oliveira sofreu um AVC no início do mês de abril e ficou internado cerca de oito dias no Hospital do Idoso, na capital acreana. Após receber alta, o idoso começou a apresentar sintomas do novo coronavírus.
“Chegou bem em casa, tranquilo e uns três a quatro dias depois começou a se sentir mal. Levamos para a UPA Sobral e de lá para a UPA do Segundo Distrito. Depois foi piorando, entubado, teve falência dos órgãos e morreu”, afirmou Moura.
Sobre a possibilidade de o idoso ter contraído a doença no Hospital do Idoso, a Sesacre disse que vai se posicionar ainda nesta terça sobre o assunto.