Com fronteiras fechadas, imigrantes de várias partes do mundo estão retidas em cidades do Acre

Desde 2010 o Acre passou a ser uma das rotas internacionais de imigração. A primeira leva foi dos haitianos que deixaram seu país após o forte terremoto que destruiu toda a infraestrutura da ilha, mergulhando-a num caos social e econômico.

O país que já sofria com as mazelas da pobreza se viu ainda mais incapaz de garantir boas condições de vida para sua população, que não teve outra opção a não ser buscar oportunidades em outras nações. À época, o Haiti era ocupado por tropas brasileiras na missão de paz da ONU – a Minustah. O Brasil foi o primeiro país buscado por eles, numa época de economia ainda nos trilhos por aqui.

E a porta de entrada principal escolhida pelos haitianos foi, justamente, o Acre por conta da interligação rodoviária com o restante da América do Sul. Por aqueles tempos, cidades como Brasiléia e Assis Brasil chegaram a concentrar milhares de haitianos. A leva migratório chamou a atenção de todo o mundo.

Ponte Wilson Pinheiro, que liga Bolívia ao Brasil por Brasiléia, no estado do Acre – Foto: Alexandre Lima

Com o tempo, imigrantes de outras nacionalidades da América e da África também descobriram a Rodovia Interoceânica para chegar àquela então potência econômica chamada Brasil – hoje mergulhado numa grave crise social, política, econômica e de saúde pública.

Com a crise que deixa milhões de brasileiros desempregados e de volta à miséria, agora os haitianos fazem o caminho de volta pela mesma Rodovia Interoceânica em busca de oportunidades no Peru, México ou Estados Unidos. Este último é o objetivo principal deles. Com a pandemia do coronavírus que levou ao fechamento das fronteiras na América do Sul, muitos deles foram impedidos de seguir viagem, e hoje moram em escolas no município de Assis Brasil, fronteira com o Peru.

Se há 10 anos alguns deles teriam passado pela mesma situação ao perambular por cidades acreanas da fronteira com a Bolívia e o Peru, agora o desejo deles é sair do Brasil. E não são apenas haitianos: há pessoas da Mauritânia, Paquistão, Camarões, Costa do Marfim, Venezuela, Cuba e Colômbia.

A situação do Acre como rota internacional de imigrantes em meio à pandemia do coronavírus veio à tona no dia 8 de maio, quando um ônibus com quase 50 peruanos saído de São Paulo foi impedido de entrar no estado quando estava na divisa com Rondônia.

A medida exigiu a intervenção de entidades de direitos humanos e do Ministério Público Federal e Defensoria Pública da União. Após a mediação, o veículo foi liberado e seguiu viagem até a fronteira de Assis Brasil com Iñapari.

Ponte que liga o Peru ao Brasil pelo Acre, está vários imigrantes e até nacionais paeruanos sem poder retornar para casa Foto: Alexandre Lima

Segundo a Prefeitura de Assis Brasil, hoje há ao menos 270 imigrantes na cidade. Este número é volátil pois há a saída e a chegada constante de pessoas por ônibus ou táxis. Os haitianos formam a maioria daqueles que estão de forma mais permanente, somando mais de 150. Apenas os peruanos conseguem seguir viagem, isso apenas após um período de quarentena ao relento na ponte binacional sobre o rio Acre, que separa as duas nações. A perspectiva é que na próxima semana mais dois ônibus com imigrantes peruanos vindos de São Paulo chegue a Assis Brasil.

A Rodovia Interoceânica que tinha como objetivo servir de integração econômica entre três países (Brasil, Peru e Bolívia) deixou de ser a rota para o trânsito de carga, e hoje é o caminho mais fácil para a entrada e saída de pessoas de várias partes do mundo em seu fluxo migratório em busca de uma vida melhor – além de servir como barganha para aqueles que tentam tirar proveito de tal situação.

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