Coluna de Jorge Felix – Avulsos

Ela, o amor e a decepção

Ela era uma balzaquiana, não tinha filhos, justificava dizendo que ter filhos nestes tempos tão difíceis, seria uma maldade para com a criança, mas se sentia incompleta. Fazia tempo que não se relacionava com alguém, era muito sensível e sofreria quase sempre com a separação, decidira então ficar só.

Por conta da idade já não atraia tantos olhares, sofria caladamente, resignada. Certa feita encontrou um rapaz interessante, jovem, conversa boa, bom humor e um charme no sorriso que contagiou seu coração, sentia-se viva novamente.

Começaram a conversar e foram vendo que tinham muitas coisas em comum, combinavam, só não na idade, ele mais novo dez anos. Um dia, vencendo a timidez, convidou-o para sair, um jantar e depois…quem sabe algo mais. Ele aceitou sair com ela, mas disse que estava sem dinheiro nem para gasolina tinha para pôr no carro. Ela mais bem financeiramente, decidiu ajudá-lo a fundo perdido, dizendo que lhe daria o valor do combustível e que pagaria o jantar e etc, Ele relutou à priori, mas aceitou. Marcaram para o sábado à noite.

Na sexta-feira, anterior ao encontro, pediu para ser liberada do escritório para resolver assuntos particulares, e foi direto ao cabeleireiro, fez o cabelo, as unhas, depilação, massagem, esfoliação, tudo para que a noite de sábado fosse perfeita, e enquanto fazia tudo para embelezar-se para seu príncipe, imaginava as falas, as loucuras que faria com ele após o jantar e ria-se sozinha, estava eufórica, um homem lindo daqueles, parecia artista de televisão, seria um sonho, seria demais.

Enfim, o dia do encontro chegara, nem dormiu direito na noite anterior de tanta ansiedade, parecia uma adolescente. Momentos antes da hora marcada, tinha tomado um banho demorado, passado hidratante, suave perfume, tudo perfeito.

As dezenove horas tinha marcado para ele ir pegá-la, tentava disfarçar o nervosismo, ouvindo música, se olhava no espelho e achava-se feia, mas sorria porque iria vê-lo, conversar com ele, sentir sua respiração perto, mesmo que nada acontecesse depois do jantar, mas o teria para ela todo ele, por um tempo.

Deu dezenove horas e nada, dezenove e trinta, nada, vinte horas, a maquiagem começava borrar nos seus olhos, vinte e uma trinta ainda arrumada, deu vinte e duas horas, começava a se desmontar por fora e por dentro, nem um telefonema, pensava, teria acontecido algo grave, furado o pneu algo assim, ele não apareceu.

Ela foi dormir com dor de cabeça e sentindo-se uma idiota, uma boba, digna de pena, fechou-se novamente em sua solidão. No outro dia no trabalho, maquiada para esconder as olheiras do choro, perguntou-lhe, vencendo toda raiva e timidez, por que fizera aquilo, de não ir ao encontro, ele apenas respondeu: sai cedo com amigos e esqueci o compromisso.

Ela se sentiu um lixo, usada e abusada por suas expectativas absurdas.


Jorge Felix de Souza Vieira
Graduado em Letras pela Ufac, Bacharel em Direito pela FAAO
48 anos casado 3 filhos, natural de Rio Branco, mas, brasileense de coração

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Publicado por
Alexandre Lima