Colômbia: Entenda a crise e os motivos dos protestos nas ruas

Manifestações se espalharam em diversas cidades do país após o anúncio de uma reforma tributária; últimos dias têm sido de violência, repressão e mortes no país

Manifestações na cidade de Armênia, Colômbia, em 28/04/2021 – Foto: Getty Images

Rafaela Lara, da CNN

As manifestações na Colômbia, que chegaram ao oitavo dia nesta quarta-feira (5), começaram após o presidente Iván Duque anunciar uma reforma tributária que desagradou grande parte da população. Nos últimos dias, no entanto, os protestos ganharam novos contornos e continuam sendo fortemente reprimidos pela polícia local.

O governo de Duque vem sendo acusado pela oposição de tentar prejudicar as classes média e baixa em meio à pandemia do novo coronavírus.

Desde o anúncio da reforma – já suspensa – o país enfrenta uma forte onda de protestos, que levou milhares de pessoas às ruas. São 24 mortos até esta quinta-feira (6), de acordo com a Defensoria do Povo da Colômbia. Os protestos começaram em Bogotá, Medelín e Cali no último dia 29 e vários grupos ameaçam entrar em greve, como caminhoneiros e taxistas.

Devido aos protestos, Duque anunciou a revogação das medidas mais polêmicas da reforma nesta segunda-feira (3), com o objetivo de acalmar a situação nas ruas. Entre os pontos mais polêmicos da reforma estavam o aumento do ICMS sobre produtos e serviços.

Imagens da violência policial empregada para conter os manifestantes circulam na internet – a cantora colombiana Shakira se posicionou nas redes sociais e pediu para que o governo “pare de violar os direitos humanos”. “As balas jamais poderão silenciar a voz daqueles que sofrem. É imprescindível que não sejamos surdos ao clamor dos nossos”, escreveu a artista.

Nos últimos dias, no entanto, os protestos se transformaram em uma demanda por ações para combater a pobreza, a violência policial denunciada por manifestantes, entre outras questões importantes para os colombianos como saúde e educação.

Os protestos começaram em Bogotá, Medelín e Cali no último dia 29 e vários grupos ameaçam entrar em greve

O crescimento da pobreza, que alcançou 42,5% da população colombiana no ano passado em meio à pandemia da Covid-19, agravou desigualdades e interrompeu os ganhos do desenvolvimento da Colômbia. A população vivendo em extrema pobreza aumentou em 2,8 milhões durante 2020.

Renúncia do ministro da Fazenda

A intensificação dos protestos levou o ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla, a renunciar ao cargo nesta segunda-feira (3). Para o posto deixado por Carrasquilla, Duque anunciou o economista José Manuel Restrepo, que ocupava o cargo de ministro do Comércio, Industria e Turismo.

A renúncia de Carrasquilla aconteceu após Duque suspender o projeto de lei da reforma tributária – recentemente apresentado ao Parlamento colombiano. Carrasquilla é apontado como o principal idealizador da reforma, que não foi aceita por grande parte dos colombianos.

Pelas redes sociais, Duque afirma que “organizações criminosas se escondem atrás de protestos legítimos”. Nesta quarta-feira (5), quando Bogotá registrou mais um protesto violento, o presidente colombiano afirmou que a capital “sofre o ataque do crime organizado” e pediu “todo o peso da lei para àqueles que persistem na violência”.

Militarização e violências em cidades

No último sábado (1º), Duque ordenou a militarização das cidades “onde há alto risco para a integridade dos cidadãos”, que são os locais onde os distúrbios se tornaram mais violentos. “A assistência militar está consagrada na Constituição e na lei, e será mantida, em coordenação com prefeitos e governadores, até que cessem os atos de grave perturbação da ordem pública”, disse.

O ministro da Defesa, Diego Molano, disse que “a assistência militar à Polícia” será prestada inicialmente no sudoeste, centro e em Antioquia, de forma “temporária e excepcional”.

O crescimento da pobreza, que alcançou 42,5% da população colombiana no ano passado em meio à pandemia da Covid-19, agravou desigualdades e interrompeu os ganhos do desenvolvimento da Colômbia

A prefeita de Bogotá, Claudia López, rejeitou a militarização das ruas das cidades. O mesmo fez o prefeito de Medellín, Daniel Quintero Calle, que afirmou que a cidade “não solicitará assistência militar” e agradeceu ao Exército por continuar acompanhando “as tarefas de proteção da infraestrutura crítica nas periferias e áreas rurais da cidade”.

A Defensoria do Povo da Colômbia acompanha os protestos e greves de perto. Desde o dia 28 de abril, a entidade alega que há cerca de 350 feridos nos protestos – e 24 mortos. Até esta quarta-feira (5) outras 89 pessoas estavam desaparecidas. Cerca de 38 profissionais das forças de segurança da Colômbia também foram feridos.

Até esta quarta-feira (5) outras 89 pessoas estavam desaparecidas. Cerca de 38 profissionais das forças de segurança da Colômbia também foram feridos. 

Segundo a Defensoria, há mais de 860 bloqueios de vias e ruas em todo o país. Na cidade de Tocancipá, em Cundinamarca, as vias foram liberadas com o auxílio da Defensoria para a passagem de um caminhão de oxigênio para cerca de 220 pacientes do Hospital Internacional da Colômbia, que necessitava desses insumos em até 48 horas.

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Assessoria