Cheia do Rio Acre faz mulher voltar pela 24ª vez a abrigo público

“Não sou sapo para morar dentro d’água”, diz Maria do Lenço.
Mulher mora há 49 anos no Bairro Seis de Agosto, em Rio Branco.

Do G1 AC

Maria do Lenço no box em que divide com mais seis familiares (Foto: Amanda Borges/G1)

O Box 37 do Parque de Exposições Marechal Castelo Branco é o atual endereço da aposentada Maria Ferreira Mota, de 58 anos, que há 49 mora sozinha em uma casa no Bairro Seis de Agosto. Acostumada a sair de casa todos os anos devido a cheia do Rio Acre, na última terça-feira (18), voltou pela 24ª vez ao abrigo montado pela Prefeitura em Rio Branco.

Conhecida no bairro como Maria do Lenço, por seu gosto pelo acessório, só este ano, a aposentada já foi removida duas vezes para o abrigo, isso por conta da inconstância dos níveis do Rio Acre. Nesta sexta-feira (21), o nível do Rio Acre atingiu 15,23m, desabrigando 309 famílias (1.221 pessoas).

Nesta cheia, a água que invadiu sua casa fez com que Maria perdesse parte dos poucos móveis que tinha: uma cama box e uma televisão, mas já avisa que não vai mais gastar nada do seu salário comprando móveis novos enquanto não sair da área de risco.

“Não adianta comprar. Fazer o quê? vou comprar para ter mais prejuízo ainda? aí não dá!”, desabafa.

O padrão de medidas dos boxes é de 2,67×2,75, porém para comportar os seis familiares que também foram para o abrigo, Maria do Lenço rasgou a lona que separava o seu boxe do resto da família e agora dormem todos juntos no mesmo espaço.

“É um filho, a nora e os quatro netos. Todo mundo trabalha, então eu fico com meninos, que estão por aí brincando”, conta.

Enquanto fica no abrigo, a aposentada aguarda ser chamada para uma das casas da Cidade do Povo, programa do Governo do Estado em que se inscreveu em 2009. “Já era para eu ter ganhado essa casa, porque faz tempo que eles [governo] andam por lá, né?”, reclama.

Mesmo com o problema da cheia fazendo parte de seu calendário, Maria ainda acha o seu bairro um bom lugar para se viver, porém, se tivesse escolha já teria saído há anos procurando um novo endereço.

“Eu não gosto devido à água, mas tirando a água até que é um lugar bom de morar, eu criei meu filhos todos no Seis de Agosto. Mas se fosse por mim já estava longe porque eu não sou sapo para morar dentro d’água o resto da vida. Nem sapo e nem jacaré”, conta Maria aos risos.

 

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Publicado por
Alexandre Lima