Bolívia tem incêndios e saques após renúncia de Evo Morales; comandante da polícia também deixa o cargo

La Paz, a capital do país, e Santa Cruz registraram incidentes que atingiram casas e lojas; gangues foram às ruas. Ainda não se sabe quem assumirá o poder.

Imagem da casa de Evo Morales em Cochabamba, que foi invadida após sua renúncia, em 10 de novembro de 2019 — Foto: Associated Press

A Bolívia registrou incêndios em casas, saques a lojas e gangues nas ruas depois que Evo Morales renunciou à Presidência no domingo (10). Os incidentes foram registrados nas cidades de La Paz, capital do país, e Santa Cruz.

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Inicialmente, logo após o pronunciamento de Evo, multidões comemoraram a renúncia. Mais tarde, no entanto, começaram os ataques – aparentemente de retaliação.

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Segundo o jornal boliviano “El Deber”, o comandante geral da polícia, Vladimir Yuri Calderón, renunciou nesta segunda-feira (11) depois dos incidentes violentos.

Um vídeo difundido entre os bolivianos mostra pessoas dentro da propriedade do próprio Evo Morales, depois que ele voou para outra parte do país. O imóvel foi alvo de pichação

Figuras importantes da oposição e o acadêmico Waldo Albarracin relataram em redes sociais que tiveram suas casas incendiadas por apoiadores de Evo. A residência de uma jornalista da Televisão Universitária também foi queimada.

Apoiadores de Evo Morales entram em choque com a polícia em La Paz, em 11 de novembro de 2019 — Foto: Juan Karita/AP

O jornal “La Razon” descreveu que várias áreas da cidade de La Paz amanheceram com rastros “de uma noite de terror” e disse que a polícia esteve ausente e demorou para entrar em ação.

Em alguns bairros, vizinhos organizaram piquetes e barricadas de contenção. Houve ainda ataques a pátios de ônibus – em uma das centrais, 33 veículos viraram cinzas.

Em Santa Cruz, o chefe da polícia, Miguel Mercado, disse que algumas “hordas e grupos de vândalos” saíram à noite no domingo para causar pânico na população, de acordo com o jornal “El Deber”.

“Quero anunciar que em Santa Cruz a situação está controlada. Não só graças à intervenção policial, graças à população, à consciência dos cidadãos que pretendem que se reinstitua a democracia”, afirmou a autoridade policial.

Vazio de poder

Evo Morales renunciou à presidência da Bolívia no domingo (10). — Foto: Enzo De Luca/Agencia Boliviana de Informacion via A

Apesar de a senadora de oposição Jeanine Añez ter dito que está preparada para aceitar a responsabilidade de assumir o comando do país, ainda não está está claro quem assumirá a liderança na Bolívia, que fará uma nova eleição,

“Se eu tiver o apoio daqueles que lideraram esse movimento por liberdade e democracia, eu vou encarar o desafio, só para fazer o que for necessário para convocar eleições transparentes”, disse Añez ao canal Red Uno, nesta segunda.

“Não é que eu queira assumir isso por força, é uma sucessão constitucional e por enquanto eu tenho que assumir.”

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Pela lei boliviana, na falta de um presidente e um vice, o líder do Senado deveria ser o líder provisório. No entanto, Adriana Salvatierra, que deveria assumir o cargo, também renunciou.

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Os legisladores devem se encontrar nesta segunda para criar uma comissão interna ou determinar quem assumirá temporariamente.

EUA querem civil no poder

A Organização dos Estados Americanos (OEA) publicou um documento no qual diz rechaçar qualquer “saída inconstitucional” para a situação.

O órgão pediu que a Assembleia Legislativa Plurinacional se reúna para assegurar o funcionamento institucional e nomear novas autoridades eleitorais que garantam uma nova votação.

“É importante que a Justiça continue a investigar as responsabilidades existentes relativas à comissão de delitos vinculados ao processo eleitoral realizado no dia 20 de outubro até as últimas consequências”, diz o comunicado do órgão.

De acordo com a agência de notícias Reuters, os Estados Unidos pediram à OEA que supervisione as novas eleições na Bolívia e disseram que vão monitorar os eventos no país sul-americano, segundo a Reuters.

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Os americanos também pedem que a autoridade que assumir o poder durante o mandato tampão até as eleições seja um civil, e não um militar.

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Ministro se refugia em embaixada da Argentina

A embaixada da Argentina em La Paz deu refúgio a um ex-ministro, Carlos Romero, desde o domingo.

De acordo com o jornal argentino “Clarín”, os diplomatas argentinos não descartam receber outros membros do governo de Evo que peçam abrigo.

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Publicado por
G1