Alcinete Gadelha e Tácita Muniz
Após abrir mão da vida social por um ano, o estudante Alan Souza, de 19 anos, venceu as dificuldades e foi aprovado em primeiro lugar em medicina, na modalidade escola pública, em um dos cursos mais concorrido da Universidade Federal do Acre (Ufac): medicina.
Filho de pais autônomos, o estudante encontrou o apoio que precisava na mãe, a empregada doméstica Valdineia Souza, de 42 anos, e no pai, o marceneiro Adenaldo Costa de Lima, de 50 anos, que, mesmo sem qualquer tipo de formação acadêmica, resolveram apostar no sonho de Alan.
Além do primeiro lugar na Ufac, o estudante ainda foi aprovado na Universidade Federal do Pará (UFP) em terceiro lugar.
“Disse à família que queria fazer medicina e eles levaram um tempo para poder aceitar. Mas pedi, pedi e eles aceitaram me ajudar”, conta.
O pai de Alan, Adenaldo Lima, passou por momento difíceis. Para tentar montar o próprio negócio, ele percorreu por várias cidades do Acre e até tentou a sorte em outros estados. Em 2016, ele foi para Porto Velho (RO) e o filho lembra que, mesmo diante de toda a dificuldade financeira, o pai decidiu o apoiar no sonho de ser médico.
“Há uns 10 anos, ele separou da minha mãe e passou uma fase muito difícil. Só no final de 2017, ele conseguiu comprar alguns maquinários e montar uma marcenaria no quintal da casa onde ele mora de aluguel. Quando fui falar com ele, perguntei se ele me ajudaria pagando um cursinho. Foi o tempo de três meses até ele se ajeitar em Porto Velho e então disse que pagaria todos os custos dos meus estudos”, relembra o filho.
O estudante não morava com o pai por conta do barulho da marcenaria que poderia atrapalhar os estudos, mas teve o apoio de Lima sempre. “Tudo veio a partir dele. Claro, que teve a ajuda de outros parentes, mas a mensalidade do cursinho foi paga por ele, trabalhando em uma marcenaria nos fundos de casa. Tenho muita gratidão”, diz emocionado.
Se o calouro de medicina é só gratidão, o pai então se define em apenas uma palavra: orgulho. Ele atribui a conquista ao esforço do estudante e também a ajuda de amigos e familiares. Pai de mais dois jovens, de 15 e 23 anos, ele agora espera formá-los também em bons cursos.
“É a primeira pessoa da minha família que consegue passar em uma federal e conseguir essa nota ótima no Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]. Além de tudo é medicina, o topo dos cursos. A gente agradece a todas as pessoas que torceram e ajudaram nessa caminhada, a todo mundo que ajudou ele conseguir esse resultado espetacular. É um momento de muita felicidade e orgulho”, enfatiza o pai.
Alan concluiu o ensino médio em 2015. Aos 16 anos ainda não tinha medicina como alvo, então chegou ser aprovado em engenharia civil em 2016, mas não fez a matrícula. No mesmo ano, no segundo semestre, concorreu para a vaga de engenharia elétrica e também foi aprovado, mas cursou apenas dois períodos e trancou o curso por perceber que não era o que queria.
“Fiz dois períodos do curso e foi quando resolvi trancar para voltar a estudar para o Enem e concorrer à vaga de medicina”, conta.
Para conseguir o desempenho notável, Alan foi embora de Sena Madureira, deixou a mãe e os amigos e seguiu para Porto Velho, em Rondônia, onde se dedicou a estudar. Ele conta que chegava a ficar estudando 11 horas por dia.
Agora, ele comemora o resultado do sacrifício com a aprovação em duas universidades públicas federais.
“Preferi manter essa distância para não perder o foco dos estudos. Tive que abrir mão de várias ciosas. De estar com a família, com os amigos, dias de passeio, lazer e festas. Tudo isso para ficar focado no estudo”, conta sobre a experiência.
A reportagem, o estudante disse que queria tentou engenharia porque não queria ficar parado. Mas percebeu que não gostava da área. “Conversando com alguns amigos que queriam fazer medicina pude conhecer mais a área, então, pesquisei e foi quando comecei a ter vontade de tentar uma vaga na Ufac”, revela.
Foi um ano de preparação. A rotina de estudos começava no curso presencial no turno da manhã. No período da tarde e noite, Alan seguia com os estudos em casa, em uma rotina que superava 10 horas de concentração diariamente.
“Almoçava, tomava um banho e voltava a estudar. Fazia pequenas pausas nesse período. Nunca cheguei a somar, mas o tempo que ficava era entre 10h e 11h horas diariamente”, conta.
Mesmo com um ano de preparação, Alan conta que não esperava que a aprovação fosse na primeira tentativa, mas, para surpresa dele e da família, foram duas aprovações.
“Não esperava passar com um ano de estudo. Só que agora passei na Ufac e fui classificado também na Universidade do Pará. Isso me surpreendeu muito, porque não esperava passar em nenhuma esse ano!”, conta animado.
Com os pesos do curso de medicina, a nota de Alan no Enem ficou em 748,7. Na redação, ele alcançou 960 pontos.
Para estudar e ter êxito nos resultados, ele contou com a ajuda de familiares que custeavam passagens, alimentação e hospedagem em Porto Velho.
“Como fui para outra cidade para estudar, morava na casa de parentes e eles sempre me ajudaram muito nessa questão de transporte e alimentação”, conta.
Nesse momento de gratidão, o estudante diz que faz questão de relembrar o apoio que teve dos pais e demais familiares. Ele disse que sempre focou em ser disciplinado e também contou com a orientação de bons professores desde o ensino médio.
“O professor Sâmik Farias teve uma parte muito importante porque sempre conversava comigo, me ensinava, incentivava. Aqui na nossa escola, ele é um exemplo, porque ama o que faz”, pontua.