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No Amazonas, facções criminosas comandam o crime em 21 municípios, sendo que em 13 destes havia apenas um grupo e em oito foi observada a coexistência de duas ou mais facções, registra o Fórum Brasileiro de Segurança Pública em estudo conjunto com o Instituto Mãe Crioula. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (11).
O estudo ‘Cartografias da Violência na Amazônia’ mostra que o CV (Comando Vermelho) está presente em dez municípios de forma hegemônica, e os Piratas dos Solimões (representados por um grupo de criminosos originários de comunidades ribeirinhas do Rio Solimões e afluentes) dominam outros três municípios.
O CV está presente em todos os municípios, mesmo naqueles em que há mais de uma facção. O PCC (Primeiro Comando Capital) está em três deles: Manaus, Rio Preto da Eva e São Paulo de Olivença. Conforme o estudo, em Manaus e Rio Preto da Eva há intensos confrontos entre integrantes do CV e PCC.
Os dois outros municípios com presença de duas facções estão na Zona de Fronteira Setentrional – Japurá e São Gabriel da Cachoeira. Nesses municípios, há indícios da presença das facções estrangeiras colombianas que atuam como aliadas do CV no abastecimento de maconha e cocaína transportadas pelos rios Japurá, Iça e Negro, que atravessam os municípios.
“O Amazonas é um estado muito estratégico para a circulação e o escoamento de drogas oriundas dos países andinos, por onde passam grandes volumes. Por isso, é considerado por muitos analistas como o estado da Amazônia que abriga a principal rota do narcotráfico”, cita o estudo.
Atualmente, 260 municípios da Amazônia Legal, correspondendo a 33,7% do total de municípios da região, registram a presença de facções criminosas. Segundo o Anuário, esse crescimento não implica necessariamente a chegada de facções a novos municípios em 2024, mas pode ser reflexo de um aumento nas operações policiais que passaram a identificar esses grupos em locais anteriormente não mapeados.
Do total de municípios com facções, 176 possuem a presença de apenas uma organização criminosa. Desses, 130 são dominados pelo Comando Vermelho, 28 pelo Primeiro Comando da Capital, e os demais são controlados por facções menores.
Na maioria dos estados da Amazônia Legal houve um aumento na presença dessas organizações, com uma tendência crescente de dominação de apenas uma facção por estado. Além disso, foram observadas mudanças no controle de algumas cidades com grupos rivais disputando o poder, o que muitas vezes agrava as tensões locais. Desavenças, como a Tropa do Castelar no Mato Grosso, um braço dissidente do CV, também foram registradas.
Nas zonas de fronteira, 83 municípios têm presença de facções, sendo 20 municípios no Acre; 1 no Amapá; 8 municípios no Amazonas; 21 no Mato Grosso; 15 em Roraima e 18 em Rondônia.
O Pará, que faz fronteira com a Guiana e Suriname, registra um fenômeno distinto. A dificuldade de acesso e a distância entre os municípios da Calha Norte fazem com que as rotas criminosas originárias desses países sigam pelo Oceano Atlântico, frequentemente passando pelo Amapá ou chegando diretamente ao Pará.
É o estado com o maior número de municípios dominados por uma única facção, totalizando 62 cidades. Em contraste, o Tocantins é o estado com menor presença de facções, com apenas 4 municípios afetados. O Amapá registrou queda no número de facções.
O estudo identificou 43 municípios onde há disputa entre o CV e o PCC. No Mato Grosso são 11 cidades, o estado do Pará tem 7, o Maranhão 7, Amazonas registra 3, Rondônia (5), Roraima (5) e Tocantins também 5.
O Amazonas apresentou uma redução de 8,2% na taxa de MVI (Mortes Violentas Intencionais) entre 2022 e 2023, atingindo a taxa média de 35,6 homicídios por 100 mil habitantes em 2023. Apesar do resultado positivo, a violência se distribui desigualmente pelos municípios. No triênio 2021-2023, as taxas de MVI variam de 0 mortes em cidades como Nhamundá e Santa Isabel do Rio Negro, até taxas superiores a 100 homicídios por 100 mil habitantes, como em Iranduba.
Iranduba é o município mais violento do Amazonas no triênio, com uma taxa média de 102,3 mortes violentas por 100 mil habitantes. Embora tenha havido uma queda de 32,4% na taxa em 2023, que passou para 68,7 homicídios por 100 mil habitantes, as elevadas taxas de 2021 (136,6) e 2022 (101,7) colocaram Iranduba como a cidade mais violenta do estado no período.
Iranduba também ocupa a 6ª posição entre as cidades mais violentas de toda a Amazônia Legal no triênio. Com uma população de 61.163 habitantes (Censo 2022), a cidade está localizada na região metropolitana de Manaus, a 23 km da capital, e é dominada pela facção Comando Vermelho.
Outro município com altas taxas de MVI no período foi Rio Preto da Eva, que registrou uma taxa média de 81,5 mortes por 100 mil habitantes. Nesse período, a cidade viu um aumento de 321,1% na taxa, que subiu de 40,0 em 2021 para 168,4 em 2023. O aumento da violência é atribuído à disputa entre as facções do CV e PCC pelo controle da região.
Tabatinga, com 66.764 habitantes, foi o terceiro município mais violento, com uma taxa média de 77,4 homicídios por 100 mil habitantes. A cidade ocupa a 23ª posição entre as cidades mais violentas da Amazônia Legal.
Localizada na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, Tabatinga é um ponto estratégico para o tráfico de drogas e outras atividades criminosas. A cidade é isolada por rios e florestas e é de difícil acesso, com viagens que podem durar três dias partindo de Tabatinga e até sete a oito dias de Manaus. A dinâmica transfronteiriça facilita o tráfico e a violência associada.