“A gente não enxerga o autismo só em olhar e acaba achando que a criança não tem nada. Que é uma criança dita ‘normal’, mas ela precisa do documento que dá direitos e a possibilidade dela exercer esses direitos”, destacou a psicopedagoga e coordenadora do Espaço Cultural da Calma, Eloilma Lima, ao expressar a importância da Carteira Estadual da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (e-Ceptea).
Na última segunda e terça-feira, o governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), em parceria com o Ministério Público do Acre (MPAC), realizou uma ação, no Via Verde Shopping, em Rio Branco, voltada para o público infantil com autismo.
Na ocasião, foram emitidas e-Ceptea, a carteira de identidade, realizada pelo Instituto de Identificação da Polícia Civil do Acre (PCAC), e o preenchimento do Formulário do Diagnóstico de Quantitativo de Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Eloilma Lima, “mãe atípica” – termo usado para descrever mães de crianças autistas ou com alguma deficiência -, estava acompanhada de seu filho Eliseu, de 7 anos, e conseguiu por meio da ação tirar a e-Ceptea dele. “Eliseu já tem a carteirinha municipal, e devido a várias situações, eu não tinha conseguido tirar a estadual até hoje, mas como a ação está ocorrendo aqui no shopping, eu disse: ‘vou tentar novamente’, e dessa vez eu consegui”, afirmou.
Como coordenadora do Espaço Cultural da Calma, a psicopedagoga ressalta a importância de lugares, e também de ações, voltadas para o público com TEA, para que sejam realizadas em locais de grande circulação.
“Sempre escuto outras mães falarem que não saem com seus filhos, pois eles podem ter crises, gritar, chorar. Então, para não acontecer, acabam não saindo e não dando a ele o direito do convívio com a sociedade; mas, graças a Deus, a comunidade e o governo têm tido essa sensibilidade de abrir espaços e promover inclusão, pois inclusão é quando a mãe sai de casa e traz uma criança, ou até mesmo a pessoa adulta, para um lugar como o Espaço [Cultural da Calma]”, salienta.
Concluindo, Eloilma Lima destaca que o Espaço Cultural da Calma e a ação de parceria do governo com o MP ter sido realizada no shopping, abraça não somente as famílias de classe média, mas também aquelas mais carentes: “Justamente por serem no shopping, outras famílias podem ser contempladas, porque agora existem espaços onde eles podem vir tentar se reabilitar. Dessa forma, realmente todos podem ganhar”.
A procuradora de Justiça Gilcely Evangelista, que é coordenadora do Grupo de Trabalho na Defesa das Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (GT-TEA) e do projeto “TEA – Eles não estão sós”, destaca que o objetivo do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) com o formulário é realizar, em todo o estado, um diagnóstico para identificar e conhecer o nível de implementação de políticas de saúde, de educação e de assistência social voltadas para pessoas com o transtorno do espectro autista em todo o estado.
“Com o formulário, vemos quantos autistas temos em cada município, dando uma estimativa quantitativa e qualitativa. Então, é importante o preenchimento desse documento para que possamos, junto ao governo do Estado e à sociedade civil, fazer a implementação das políticas públicas voltadas à população autista”, afirmou a procuradora.
O perito grafotécnico Augusto Maia aproveitou a oportunidade da ação e levou seu filho para tirar a carteira de identidade. O Instituto de Identificação da Polícia Civil estava com um espaço preparado para receber os jovens autistas e atendê-los com todo cuidado. Ao todo, 100 carteiras foram emitidas, primeira e segunda via, de forma totalmente gratuita.