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A humildade e a simpatia de um jornaleiro; conheça a história do acreano Pelé

Antônio Augusto de Melo/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Por Resley Saab –

Pelé nasceu Antônio Augusto de Melo, em 1951. Veio ao mundo pobre e negro, numa colônia onde hoje é o bairro São Francisco. Assim que tomou tento que a vida não é moleza, lá pelos 16 anos, foi parar no Mercado Velho, agora Novo Mercado Velho. Na beira do Rio Acre, entre pensões e cabarés, arranjou trabalho: carregar cestos pra gente rica.

Os pais, João Felipe de Melo e Maria Anastácia de Melo, vieram de Mossoró, no Rio Grande do Norte, para trabalhar em colônia em Rio Branco, onde hoje é a Rua Juarez Távora, atrás do hospital Santa Juliana.

E embora a servidão parecesse sina dos ancestrais africanos, ele nem ligava se fosse chamado de ‘tição’ ou outra coisa do gênero, porque sua alma é muito maior que qualquer frase depreciativa. Ainda hoje é tolice querer tirá-lo do sério. A mansidão herdada dos pais é uma virtude, assim como o fascínio pela arte e pela cultura.

Toca violão há 40 anos e é visto até hoje nas pensões do Novo Mercado Velho dedilhando poemas do Patativa do Assaré.

Mas a modéstia é insurgente: – Durante todo esse tempo, quem me vê tocar acha que só tenho 4 anos de instrumento.

Ainda moço, em plena ditadura militar, vez ou outra se pegava parado diante de uma banca de revista como um cão em frente de uma ‘televisão de cachorro’. A fome era por livros e revistas, ainda que a censura chegasse antes para retalhar conteúdos, que na sua opinião, eram considerados subversivos.

A banca fica localizada no Centro de Rio Branco/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Pelé tem pele grossa feito papel de embrulhar pregos e rosto em madeira talhada, brilhosa como tronco de mulateiro. Cabelos empinados feito pelo de animal resistente às intempéries da vida e olhos grandes como os da onça preta que rondou algumas vezes o seu quintal quando criança.

No alto da sua rusticidade simples e aguerrida, como só os filhos da Mãe África são capazes de conceber, descobriu a bola. Depois do flerte com os livros, foi a pelota a sua primeira paixão. Corpulento, Antônio Augusto de Melo foi jogar de lateral direito, e às vezes de zagueiro, no Andirá, time conhecido pela irreverência de seu mascote, o Morcego.

Antônio também já foi jogador de futebol/Foto: Juan Diaz/ContilNet

primeiro filho, pôs o nome do goleiro camaronês N’kono, famoso por defesaças em times espanhóis da década de 1980 e início da de 90.

E os meandros da vida, por coincidência, trouxeram N’kono para jogar no Acre, em amistoso contra o Rio Branco no estádio José de Melo. Foi o coroamento de sua passagem pelo mundo desportivo. Imagine só o N’kono acreano, filho de Pelé, com o N’kono do futebol mundial, juntos, numa mesma fotografia. Aquilo era demais.

Os jornais também eram vendidos na banca/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Hoje, Pelé administra uma banca de revistas na praça Chico Mendes. Vive em meio a um emaranhado de folhas, publicações e discos de vinil, alguns artigos tão velhos quanto a fundação da cidade de Rio Branco. Tem o privilégio de abrir o quiosque quando quer.

Esse patrimônio vivo da história do Acre não ficou rico, mas possui um tesouro no coração: a amizade de todos, do doutor, do servidor público ao engraxate, do velhinho e ao mendigo. E qual é a fórmula para tanta simpatia? É que Augusto de Melo, o Pelé, vive a vida sem esperar nada de ninguém.

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