Ainda mais graves são as situações das partes noroeste e central do país, as mais afetadas pelo calor extremo. As médias máximas do mês passado –38 ºC e 36,3 ºC, respectivamente– foram as maiores dos últimos 122 anos para as regiões, segundo o departamento. O vizinho Paquistão tem observado cenário semelhante.

Cientistas alertam que 1 bilhão da população de 1,38 bilhões de pessoas corre risco de ser afetada pelas ondas de calor, e as consequências vêm sendo sentidas no cotidiano, com a demanda de eletricidade no país atingindo recordes, os serviços públicos alterando horários de rotina e focos de incêndio sendo observados com maior frequência.

Análise da agência Reuters com base em dados oficiais mostrou que a demanda de energia cresceu 13,2% no último mês, já que a necessidade de eletricidade, especialmente no norte, saltou entre 16% e 75%. Espera-se que o desafio se mantenha, uma vez que os institutos preveem temperaturas igualmente altas para maio, com picos de 40 ºC.

A capital Nova Déli, por exemplo, registrou recorde de demanda de energia nesta segunda, quando 6,194 megawatts foram necessários, maior valor de todos os tempos para a primeira semana de maio. Em abril, a situação foi semelhante, quando a demanda de energia aumentou 42%, mostrou o levantamento da Reuters.

E o uso sem precedentes de eletricidade tem resultado em cortes generalizados de energia, à medida que os estoques de carvão são os mais baixos para o período em pelo menos nove anos. Para diminuir o uso, estados como Haryana anunciaram uma mudança no horário das aulas escolares –de 7h ao meio-dia para 8h às 14h30 no horário local. Outros chegaram a antecipar as férias de verão dos estudantes.

Sete estados, de acordo com contagem da agência AFP, sofreram os piores cortes de energia em mais de seis anos, sendo a maioria do norte. Três grandes incêndios foram registrados em menos de um mês no aterro de Ghazipur, o maior da capital, com montanhas de lixo de 65 metros –a falta de infraestrutura para lidar com as 12 mil toneladas de resíduos produzida diariamente é desafio latente em Nova Déli.

A crise tem feito com o que a expressão mudança climática chegue cada vez mais vezes ao vocabulário do premiê Narendra Modi. A Índia é o quarto maior emissor global de dióxido de carbono, atrás apenas de China, EUA e União Europeia, segundo a base de dados Edgar, da UE, referência no assunto. A emissão per capita em 2019 foi de 1,9 tonelada.

Modi alertou, em discurso na última semana, que o fato de o país estar ficando cada vez mais quente aumenta a probabilidade de incêndios. “As temperaturas estão subindo rapidamente e subindo muito mais rápido do que o normal”, disse ele em uma conferência virtual para chefes de governos locais. “Vimos nos últimos dias episódios em vários lugares –nas floretas, em construções importantes e em hospitais.”

Ondas de calor mataram mais de 6.500 pessoas na Índia desde 2010, disse à AFP a cientista Mariam Zachariah, do Instituto Grantham do Imperial College de Londres. “Antes de as atividades humanas aumentarem as temperaturas globais, o calor como este que atingiu a Índia só era observado uma vez a cada 50 anos. Agora, podemos esperar temperaturas tão altas ao menos uma vez a cada quatro anos.”

Durante a 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que ocorreu em Glasgow, na Escócia, no ano passado, Modi anunciou a meta reduzir as emissões de carbono do país até 2030 e zerá-las até 2070. Ainda assim, atuou ao lado da China para amenizar um objetivo final sobre o carvão, de modo a dar continuidade ao seu consumo.

Nesta segunda, ele também ficou uma parceria com a Alemanha do premiê Olaf Scholz para ajudar a Índia a atingir as metas climáticas. Berlim deve enviar EUR 10 bilhões (R$ 53 bi) para Nova Déli