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Ex-vereador assina lista de presença no PSOL sete anos após seu falecimento

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Denúncias apontam para irregularidades com mais de R$ 500 mil do Fundo Partidário, mas direção local afirma que contas foram aprovadas

Por TIÃO MAIA

O ex-vereador Edvaldo Guedes, um paraibano de nascimento e que viveu em Rio Branco até março de 2010, quando faleceu de causas naturais, esteve presente e até assinou a ata e a lista de presença de uma plenária do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) em 19 de agosto de 2017 – sete anos depois de seu falecimento, quando a agremiação partidária, assim como as demais siglas legalizadas no país, se preparavam para disputar as eleições de 2018. Naquele ano o PSOL regional disputou às eleições na coligação Frente Popular do Acre (FPA), apoiando a candidatura de Marcus Alexandre ao Governo e à reeleição do então senador petista Jorge Viana, com o presidente regional do Partido, Jamyr Rosas, na condição de primeiro-suplente da chapa.

No caso de Edvaldo Guedes, que teria assinado documentos depois de morto e comparecido às plenárias partidárias, não seria o caso de nenhum fato sobrenatural ou de espiritismo. Se bem que em política não se deve duvidar de nada, mas é quase certo que velho político, eleito vereador em 1978 até 1982, jamais voltou da morte para se materializar na preparação para a disputa eleitoral de 2018. Sua assinatura nos documentos neste sentido e as informações de que, mesmo depois de morto, ele continuava a manter atividade política e partidária são apenas exemplos de diversas irregularidades envolvendo a direção regional do PSOL que estão sendo denunciadas à Polícia Federal e ao Ministério Público Eleitoral Federal (PMF), conforme documentos obtidos pela reportagem do ContilNet, sob o compromisso de sigilo da fonte.

A direção do PSOL no Acre, na pessoa do presidente Jamyr Rosas, no entanto, negou todas as acusações e disse que as contas do partido foram inclusive aprovadas pela Justiça Eleitoral. Em documento da Justiça Eleitoral, Jamir Rosas diz que as contas do PSOL foram aprovadas, porque “restaram sanadas as irregularidades apontadas no Parecer Preliminar, razão pela qual o MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL opina pela aprovação da presente prestação de contas, com fundamento no artigo 77, I, da Resolução”, diz uma certidão exibida pelo dirigente partidário.

As denúncias, no entanto, viraram inquérito em apuração tanto pela Polícia Federal como MPF,embora Jamyr Rosas tenha declarado que jamais fora intimado ou comunicado disso. “Eu ouvi falar disso mas nada de forma oficial”, afirmou o dirigente ao ContilNet

Irregularidades envolveriam falsificação de documentos e de assinaturas de filiados

De acordo com as denúncias, além a ressureição de mortos, as irregularidades incluem a participação de pessoas em eventos do partido sem que os filiados ou filiadas sequer soubessem disso – alguns, aliás, disseram que a época dos fatos estavam inclusive viajando e que mesmo assim suas assinaturas apareceram em documentos oficiais e enviados à Justiça Eleitoral como legítimos.

Foi o que ocorreu com Geane de Oliveira Quadros. Ela afirma que não pôde comparecer a nenhuma das três plenárias realizadas em Rio Branco, mas seu nome aparece assinando na lista de presença. Ela pede providências do diretório sobre pena de processo na justiça por dano moral e material, pelo uso indevido do seu nome. No mesmo caso está Nayra Peres da Conceição, cujo nome consta na lista de presentes mas ela também não estava nas plenárias do partido pela prosaica razão de que, na época, se encontrava viajando.

Maria Jose da Silva Freitas também teve seu nome assinado como delegada no congresso estadual, mas, segundo ela, no dia não pode comparecer por motivo de saúde, e diz que não sabe por quem seu nome foi assinado, e cobra responsabilidade por parte do partido. Mesmo caso de Viviane de Oliveira Damasceno. Seu nome consta da lista de presença mas ela não pode comparecer a nenhuma das plenárias de Rio Branco, e classificou como um absurdo alguém se passar por ela dentro do Partido.

A fraude nas assinaturas, de acordo com a denúncia, é tão latente que a pessoa que assinou os documentos com os nomes de pessoas que lá não compareceram não se preocupou nem mesmo em mudar de canetas ou de caligrafia. Nem mesmo no caso de Edvaldo Guedes.

Contratos fraudulentos esconderiam gastos de recursos públicos, diz autor das denúncias

Constatada o que parecia uma irregularidades das mais simples, uma comissão de filiados resolveu auditar as plenárias realizadas em 2017 e descobriu que as irregularidades iam muito além de falsificações de assinaturas. Eram manobras criminosas para que um grupo de dirigentes do partido pudessem se apropriar do Fundo Partidário destinado ao partido nas eleições de 2018, no valor de R$ 545 mil

“Diante dos fatos observamos manobras e ações por parte de outros membros do diretório, que consideramos abusivas e criminosas, em relação aos gastos do financiamento públicos de campanha das eleições deste de 2018, e do próprio Fundo Partidário, tendo como seu principal mentor e articulador o próprio presidente do diretório, senhor Jamyr de Souza Rosas, na companhia de outros”, sustentou o autor das denúncias que pediu que seu nome fosse preservado.

“Informo que para o mesmo ter êxito nas suas ações delituosas, em relação às finanças do partido, foi montada dentro do diretório estadual do PSOL em Rio Branco, uma espécie de grupo especial, para gerir os mais de R$ 500,000 (quinhentos mil reais) do fundo especial de campanha destinado ao diretório nas eleições deste ano, sob o comando Franckcinato da Silva Batista, e Jamyr de Souza Rosas, que consideramos no mínimo uma fraude”, acrescentou a denúncia.

A análise da prestação de contas eleitoral de campanha do Partido em relação às eleições de 2018 – Processo nº 0600976-92.2018.6.01.0000 – há também irregularidades e a existência de contratos fantasmas. Seria o caso do contrato, pago com recursos do fundo do Partido, numa parcela única no valor de R$ 4 mil, entre o PSOL e um certo senhor Vitor Baroni, contratado para fazer assessoria política aos candidatos. A propósito, deveria ser um gênio o senhor Baroni: natural de São Paulo, recém-chegado ao Acre fazia menos de três meses, ele tinha a incumbência de assessorar os candidatos do PSOL na disputa em 2018.

Outro contrato com visíveis sinais de irregularidades envolve a figura do cidadão Hilton Cesar Rodrigues de Oliveira Junior, “contratado para serviços de logísticas relacionado às eleições 2018, mais não é sabido por parte de vários membros do diretório e filiados, sobre a procedência desse serviço, que de fato não houve, por não ser de conhecimento de pessoas ligadas ao diretório. Suspeito de sua relação duvidosa com o atual presidente do diretório por esta usando o mesmo para esta finalidade delituosa”, garante o denunciante..

Um terceiro contrato duvidoso entre o PSOL e Aron Santos Oliveira mostra que o cidadão teve seu carro alugado para o Partido e os filiados e candidatos ou outros membros do diretório não conheceram os serviços executados pelo motorista e pelo veículo. Um quarto contrato envolve o cidadão Wendel Granjeiro de Macedo. Ele recebeu de R$ 15 mil reais para fazer serviços de mídia para o Partido. “Também não é sabido, e também não é sabido da existência desse material ou que ao menos o mesmo tenha prestado serviço de marketing para algum candidato nas eleições”, disse o autor da denúncia. “Dentro do diretório se ouve falar que não de agora que Wendel Granjeiro de Granjeiro é envolvido com esse tipo de esquema com o senhor Jamyr de Souza Rosas, em outras prestações contas do partido o mesmo fez o mesmo lance”, acrescentou.

Candidatos eram obrigados a ter suas contas administradas por homem apontado por Jamyr

O autor da denúncia também garante que, em relação ao fundo especial de financiamento de campanha destinado ao diretório estadual do PSOL/AC, em torno de meio milhão de reais em 2018, foi observada uma situação não menos grave: “ suspeitamos que vários candidatos foram contratados para serem fantasmas nessas eleições, com a finalidade de desviar os recursos do fundo eleitoral do campanha no diretório estadual do PSOL, com a chancela de seu presidente”.

Segundo o denunciante, “todos os candidatos do PSOL foram obrigados a ter uma só pessoa do diretório como responsável e administrador financeiro de suas contas e de seus contratos”. No caso foi Franckcinato da Silva Batista. “Quem não se submetesse a esse senhor e a isso, o não seria candidato”, diz o denunciante. “Além disso, muitos candidatos reclamavam quase que diariamente da falta de material. Que era ouvido falar que o material estava sendo rodado em gráfica de fundo de quintal, mais que seriam usadas notas de gráficas normais”, diz a denúncia.

A segunda suspeita diz respeito à campanha da candidata a deputada federal Gloria Thais Souza de Melo, cuja prestação de conta recebeu o número 0600975-10.2018.6.01.0000. O investimento feito em sua campanha pelo diretório não corresponderia com a realidade dos fatos, diz a denúncia. Foram mais de R$ 120 mil investidos numa candidata que teve apenas 358 votos. “O que se sabe é que o recurso da candidata, novata nas eleições, foi todo administrado pelo senhor Franckcinato da Silva Batista, e que muitos contratos fantasmas foram usados pelo mesmo, como por exemplo, a contratação do aluguel para sede do comitê de campanha em nome da senhora Tereza da Silva Batista. Não houve comitê de campanha desta candidata, nem na capital nem no interior. A tiragem de 1 milhão de santinhos que também não houve, as tiragem eram feitas em quantidade menor, em gráficas clandestinas, mais com CNP emprestados de outras empresas possivelmente combinadas, pelo presidente do diretório e o senhor Franckcinato da Silva”, sustenta a denúncia.

Outra questão levantada sobre a campanha da candidata foi o volume de material comprovado na prestação de contas, mais nunca visto por ninguém, como as notas passadas da empresa Mavisa Comércio e Serviços “Também o serviço gráfico que era todo feito no Partido em sala interna no diretório estadual, e não em uma empresa fora como consta nas notas. Na campanha, a advogada Jaqueline Dias da Silva, membra do diretório municipal, disse ter ouvido da boca do senhor Samuel de Lima Mota, membro suplente do diretório estadual, que a candidata Gloria Thais receberia 30 mil reais, pelo serviço, e que a intenção não era ganhar as eleições”, garante o denunciante.

O terceiro caso mal explicado envolve a ex-candida Inês Martins Barreto, processo de prestação de contas – 0601039-20.2018.6.01.0000. A candidata estava gravida de 08 meses e não fez campanha eleitoral. “O que nos assusta é que a mesma (a candidata), depois das eleições, chegou até a ameaçar a delatar o esquema em que seu nome vinha sendo usado pelo presidente do diretório senhor Jamyr de Souza Rosas, caso o mesmo e sua esposa não dessem o enxoval de sua criança, além de outras exigências feitas pela candidata, e que depois acabou ficando calada. A candidata teve um investimento de R$15.812,86 do fundo eleitoral de campanha, obteve apenas 22 votos. Informo que considero toda prestação de contas dessa candidata uma fraude arquitetada dentro do diretório pelos nomes acima citado, no anseio de burlar a justiça eleitoral e seus órgãos de fiscalização, tendo em vista, que não foi vista movimentação alguma de campanha desta candidata no período eleitoral, nem destruição de santinhos, ou bandeiras, e que esses fatos precisam ser melhor esclarecidos, começando pelos contratos existentes e das pessoas que dizem terem trabalhado e ordenado suas despesas”, disse o denunciante.

De acordo com a denúncia, o senhor Pedro Teles de Carvalho, morador da zona rural de Xapuri – AC, cujo processo processo de prestação de contas é o de número 0601037-50.2018.6.01.0000. De acordo com a denúncia, ele queria que sua movimentação financeira fosse feita no município onde reside, mas foi impedido pelo presidente do diretório. O candidato aceitou, e vinha de Xapuri, ao diretório em Rio Branco, assinar somente o que fosse preciso. Teve um investimento de R$ 22 mil reais, do fundo especial de campanha, e apenas 76 votos. “Alguns contratos em sua prestação de contas são fantasma, como por exemplo o do senhor Arthur da Silva Araújo, de Rio Branco, aluguel de um automóvel. Seu Pedro Teles era visto sempre a pé, e vinha de taxi de Xapuri para Rio Branco, ia no diretório, entre outros afazeres quando estava na cidade sempre a pé. Sendo que consta o aluguel de pelo menos 3 automóvel para sua campanha. Outro contrato também fantasma e o de seu coordenador de campanha Jandyr de Souza Rosas, o mesmo nunca foi visto si quer entregando um santinho do seu Pedro Teles, ou fazendo qualquer trabalho ou articulação eleitoral de campanha que beneficiasse durante as eleições”, garante a denúncia..

“Partido de esquerda é assim mesmo”, diz dirigente regional do PSOL

O presidente regional do PSOL no Acre, Jamyr Rosas, principal acusado nas denúncias de irregularidades levadas ao conhecimento do MPF, disse ao ContilNet que não tem nada a temer e que teve as contas aprovadas pela Justiça Eleitoral.

Disse ainda ter sido informado do teor das denúncias mas lembrou que até agora não foi intimado e que está pronto para prestar todos os esclarecimentos necessários e que os R$ 545 mil enviados pelo diretório nacional como contribuição do Fundo Partidário foram distribuídos equitativamente entre os candidatos e forma legal.

“os únicos recursos administrados pela direção partidária foi em torno de R$ 75, sob a rubrica gastos coletivos, aqueles em que são pagos advogados, serviços de computadores”, essas coisas.

As denúncias, segundo ele, fazem parte da luta interna do partido entre grupos adversários. “Partido de esquerda é assim mesmo”, disse.

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União indica Jayme para Comissão de Orçamento, a mais importante do Congresso

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Com uma larga experiência política e administrativa, o senador Jayme Campos (MT) foi indicado pelo partido União Brasil no Senado para integrar a Comissão Mista do Orçamento do Congresso Nacional. Essa comissão é responsável pela avaliação dos projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais do Governo Federal. 

“Sem dúvida, uma das mais importantes do Legislativo. Afinal, por esta comissão passam todos os recursos a serem investidos em nosso país” – frisou o senador mato-grossense, que ocupa a função pela quarta vez, já tendo sido, inclusive, relator setorial dos recursos atribuídos ao Ministério das Cidades. 

Nesta quarta-feira, 24, aconteceu a instalação e eleição da mesa de trabalhos da Comissão. Foi eleito para presidir a CMO o deputado Júlio Arcoverde (PP-PI). Também foi escolhido na ocasião o senador Ângelo Coronel (PSD-BA) para ser o relator do Orçamento de 2025, cuja peça deve ser encaminhada pelo Executivo durante o segundo semestre. 

Ex-governador de Mato Grosso, ex-prefeito de Várzea Grande e senador exercendo o segundo mandato, Jayme Campos disse que espera conseguir dar novamente sua parcela de contribuição e influenciar para construção de um Orçamento público que possa “destinar os recursos para as zonas prioritárias do país”.  Ele enfatizou que o Brasil tem muitas carências a serem supridas e que a Comissão de Orçamento tem sobre si uma grande responsabilidade “de buscar efetivamente aquilo que será bom para a sociedade brasileira”.  

De acordo com o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, em 2025, o Orçamento prevê o Produto Interno Bruto (PIB) em R$ 12,4 trilhões. O texto enviado pelo governo prevê o déficit zero nas contas públicas. Para o próximo ano, o governo poderá gastar R$ 2,1 trilhões e prevê o crescimento do país em 2,5% até 2028. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ainda prevê a taxa Selic em 6,77% ao ano para o próximo ano.

“Estamos aqui para contribuir, ao lado de tantos outros senadores experientes, e esperamos entregar a sociedade brasileira um Orçamento elaborado com muita responsabilidade” – ele frisou.

Fonte: Política

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Piruinha será julgado por assassinato nesta quinta-feira

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O contraventor José Caruzzo Escafura, conhecido como Piruinha, deve começar a ser julgado, às 13h desta quinta-feira (25), pelo assassinato do empresário Natalino José do Nascimento Espíndola, em julho de 2021. O julgamento, pelo 3º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, estava inicialmente marcado para o dia 9 de abril, mas acabou sendo adiado.

Piruinha, de 94 anos, está sendo julgado por homicídio qualificado. Também são acusados de participar do crime sua filha Monalliza Neves Escafura, e o policial militar Jeckeson Lima Pereira.

As investigações mostraram que Natalino José foi executado por Jeckeson, em uma emboscada, a mando de Piruinha e de sua filha, porque a família Escafura teria tido prejuízos milionários com um empreendimento da vítima.

De acordo com as investigações, os dois teriam tentado reaver o dinheiro perdido, sem sucesso, e por isso determinaram a morte de Natalino. Segundo o Tribunal de Justiça, a família de Piruinha tem envolvimento há décadas com a exploração dos jogos de azar na zona norte da cidade.

Piruinha foi preso preventivamente pelo assassinato em maio de 2022, mas desde dezembro daquele ano, cumpre prisão domiciliar, depois de ter sido internado por uma fratura do fêmur.

Fonte: EBC GERAL

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Mudanças climáticas do passado impactaram genética de ave na Amazônia

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Os efeitos das mudanças climáticas naturais ocorridas ao longo de milhares de anos na Amazônia estão registrados no genoma de pássaros do gênero Willisornis. Também conhecidas como rendadinhos ou formigueiros, estas aves tiveram uma redução da sua diversidade genética ao longo do tempo, sobretudo devido às transformações ambientais ocorridas no período de glaciação. É o que aponta um estudo brasileiro que vinha sendo desenvolvido desde 2016 através da colaboração de diferentes instituições científicas.

Os resultados foram descritos em um artigo publicado nessa quarta-feira (24) na revista científica Ecology and Evolution, publicação internacional voltada para a divulgação de pesquisas em ecologia, evolução e ciências da conservação. Apesar de tratar de eventos passados, os achados podem contribuir para a análise de possíveis efeitos do aquecimento global, fenômeno atualmente em curso impulsionado pela ação do homem no planeta.

O estudo foi coordenado pelo Instituto Tecnológico Vale – Desenvolvimento Sustentável (ITV-DS). Criado em 2010 com sede em Belém, trata-se de um braço da mineradora Vale dedicada ao fomento da pesquisa científica. Houve ainda envolvimento da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade de Toronto, no Canadá.

Segundo o biólogo Alexandre Aleixo, pesquisador do ITV-DS que liderou o estudo, os pássaros do gênero Willisornis são considerados bioindicadores naturais da Amazônia. Significa que são seres vivos que podem ser utilizados para avaliar a qualidade ambiental do bioma onde vivem.

“Os pássaros do gênero Willisornis só vivem próximos ao solo de floresta úmida. Eles não conseguem habitar em nenhum outro ambiente. Então eu posso dizer que a distribuição dele indica a presença de floresta úmida. Pode parecer redundante. Mas quando a gente olha para o contexto histórico e prova, através da pesquisa científica, que os Willisornis estavam presentes nessa região da Amazônia há 400 mil anos, temos um indicativo muito seguro de que a floresta também estava presente nesse lugar, naquele período”, explica Aleixo.

O estudo envolveu o sequenciamento do genoma completo de nove pássaros, oito deles realizados pelos pesquisadores brasileiros e um por cientistas canadenses. As informações contidas no DNA das aves passaram por uma análise. Modelos computacionais foram usados para compreender questões como a dinâmica do tamanho das populações e as relações de parentesco entre os indivíduos.

Aleixo explica que foi realizada uma análise coalescente, que permite obter um retrato retrospectivo da genética populacional. É a mesma técnica usada nos testes de ancestralidade, que se popularizaram nos últimos anos na Europa e nos Estados Unidos e que também já existe no Brasil. Por meio deles, é possível obter, a partir de uma amostra de saliva, informações do genoma de qualquer pessoa.

O teste irá mostrar as origens geográficas do DNA, indicando as regiões de onde vieram seus ancestrais, e pode revelar outras informações como o risco de desenvolver determinadas doenças. No Brasil, já existem empresas ofertando o serviço que prometem revelar o passado com base em dados de até oito gerações.

“No caso dos Willisornis, a gente também buscou essa cápsula do tempo que está registrada no DNA e ela nos permitiu que a gente chegasse numa resolução de 400 mil anos para cá, para o genoma de cada indivíduo. A datação é amparada por vários estudos”, explicou Aleixo.

O biólogo acentuou também que as mudanças climáticas influenciam processos de expansão e retração da cobertura vegetal da Floresta Amazônica. Dessa forma, essas aves enfrentaram um cenário crítico no interstício que vai de 80 mil até 20 mil anos atrás, quando houve uma redução da área de mata fechada em decorrência da glaciação. De acordo com o pesquisador, já há estudos que apontam para mudanças drásticas no regime de chuvas nessa época, com estimativas que indicam uma queda de 40% a 60% no volume de precipitações. Passado esse período, a Floresta Amazônica voltou a se expandir para atingir o formato como a conhecemos atualmente.

“Com menos cobertura vegetal, as populações de Willisornis acabam se reduzindo e, consequentemente, apresentam taxas mais elevadas de cruzamentos entre parentes. Isso resulta em menor diversidade genética”, explica Aleixo. O que surpreendeu os pesquisadores, no entanto, foi a resiliência dessas aves, que demostraram capacidade de sobrevivência mesmo em uma situação adversa.

Vista aérea de floresta e rios da Amazônia Vista aérea de floresta e rios da Amazônia

Os pássaros do gênero Willisornis só vivem próximos ao solo de floresta úmida.  – Valter Campanato/Agência Brasil

“O que vemos é que a floresta úmida se comporta como uma sanfona ao longo do tempo. Ela aumenta em períodos interglaciais e diminui em períodos glaciais. E isso deixa um impacto no genoma das espécies. Conforme a teoria genética de populações, quando você tem populações que são muito homogêneas, que não são tão diversas do ponto de vista genético, elas tendem à extinção. Chama atenção que os Willisornis são pássaros que não migram, não se deslocam muito. Eles têm um raio de ação muito pequeno. E mesmo essas drásticas reduções populacionais não foram suficientes para extinguir a espécie.”

A pesquisa mostrou que esse processo ocorreu em toda a extensão florestal, mas não na mesma intensidade. Os nove pássaros que tiveram seus genomas sequenciados são de diferentes localidades e foi observada uma variação genética bem mais limitada no sul e no sudeste da Amazônia. De acordo com os pesquisadores, os resultados corroboram a tese de que essas regiões experimentam transformações mais significativas durante períodos secos, quando a floresta úmida se converte em ambientes abertos, como cerrados.

“Chamou atenção esse declínio maior no sul e sudeste. A gente sabe que mudanças climáticas impactaram Amazônia, isso está consolidado na literatura científica. Mas não existe ainda uma ideia muito clara de como cada setor se comportou. A gente consegue ver na nossa pesquisa que essa retração florestal não foi homogênea em toda a extensão do bioma. Essa parte que fica bem na transição entre a Amazônia e o Cerrado foi muito mais impactada do que as outras áreas”, revela Aleixo.

Aquecimento global

Embora seja esperado que o planeta enfrente mudanças climáticas ao longo do tempo, as alterações atualmente em curso geram preocupações de cientistas. Nas últimas décadas, vem sendo registrado um aumento anormal da temperatura média do planeta, influenciado pela ação humana. A comunidade científica vem chamando atenção para as consequências alarmantes caso se mantenha o ritmo desse aquecimento global.

De acordo com Aleixo, embora não forneça dados específicos do período presente, o estudo com os Willisornis pode contribuir para um planejamento de ações voltadas para mitigar os efeitos das alterações climáticas em curso. “De certa forma, a gente já consegue inferir o que pode acontecer”, diz ele, mencionando a existência de estudos que já fazem projeções sobre a Amazônia.

Ele chama atenção para desafios envolvendo as unidades de conservação. “Muitas vezes, adota-se a premissa de que, uma vez demarcada, a única coisa que precisaria ter é um trabalho ali de vigilância para evitar o desmatamento. Ou seja, a unidade está lá conservada e ponto final. Mas, na verdade, ela está totalmente despreparada para lidar com as mudanças climáticas. Mesmo em uma área conservada e cercada, você vai ter uma degradação em função do clima e da mudança na distribuição de chuvas”, diz.

Dessa forma, pesquisas como a desenvolvida com os Willisornis podem contribuir para se pensar ações de conservação da biodiversidade. “A gente tem que ter indicativos, por exemplo, de quais são as populações que têm maior chance de sobreviver nesses locais diante da mudança climática. Isso permite estabelecer, por exemplo, estratégias de reintrodução ou de criação corredores de conexão. Mas eu preciso saber exatamente o que esse corredor vai estar conectando. Vai fazer diferença para essa espécie?”, questiona Aleixo.

Os pesquisadores já trabalham com derivações do estudo. Eles querem encontrar, no genoma, explicações para a resiliência dos Willisornis. “Eles têm algumas características que permitiram a essas aves se adaptarem a uma Amazônia mais seca, a uma Amazônia bastante perturbada. A gente sabe que a fauna se adapta e que existe uma resiliência para lidar com as mudanças climáticas. Mas esses estudos também nos ajudam a entender qual o limite dessa resiliência”, diz Aleixo. Já está em andamento também uma avaliação do genoma de outras espécies da fauna e da flora da Amazônia, entre elas a palmeira de açaí, a castanheiras e alguns lagartos.

Fonte: EBC GERAL

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